Qual é o poder, de fato, do presidente do Banco Central Europeu?

A frase foi dita em Londres para uma platéia de banqueiros: “dentro do nosso mandato, o Banco Central Europeu (BCE) está pronto para fazer o que for preciso para preservar o euro”. Com um complemento bem forte: “e acredite em mim, será suficiente”. O autor dessas palavras era o economista italiano, Mario Draghi, presidente do BCE.
O fato é que essas palavras tiveram significativo poder. No mesmo dia, as bolsas de ações do mundo todo, que vinham de muitos dias seguidos de grandes perdas, reverteram a trajetória e começaram a subir. O exemplo mais forte é o da Espanha, que enfrenta forte crise econômica e que depois das palavras de Draghi a bolsa de Madri subiu num dia, a quarta-feira, mais de 6%. Vale lembrar que nos sete pregões anteriores a mesma bolsa de Madri tinha caído sempre mais de 2% ao dia… Aliás, na véspera da fala de Draghi, na terça-feira, tinha despencado mais de 5%.
O motivo da força de reverter expectativas negativas da fala de Draghi é a ameaça de que o euro desapareça como moeda comum dos europeus. O que os investidores entenderam é que o BCE não permitiria que acontecesse com a Espanha a mesma situação que já aconteceu com a Grécia, Irlanda e Portugal, países que foram obrigados a reconhecer que estavam sem poder pagar suas dívidas e que tinham de ser socorridos pelo BCE. Por outro lado, esse socorro tem preço: países socorridos perdem autonomia para gerenciar suas economias que passam a ser tuteladas pelo BCE.
O custo de uma operação de socorro para uma economia do tamanho da espanhola, 15% do PIB europeu é muito alto. A economia grega, por exemplo, é sete vezes menor que a espanhola. Analistas independentes falam que a Espanha precisaria de 300 bilhões de euros para reorganizar sua economia.
Draghi falou o que o mercado gostaria de ouvir. Imediatamente as bolsas subiram. Por enquanto, o BCE apenas ofereceu as palavras de seu presidente para salvar o euro. Será preciso conferir se as palavras serão acompanhadas de todos os recursos que as economias da Espanha e da Itália precisam para serem reequilibradas.

Comentários estão desabilitados para essa publicação