Villa-Lobos

Luiz Guilherme Mello, Rafaela Valentini e Renan Leite, alunos da ESPM/SP

Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) é considerado, quase de modo unânime, o maior compositor brasileiro no âmbito da música chamada “erudita”. Naturalmente, esta informação não é suficiente para traduzir sua importância para o cenário cultural de nosso país.

Uma busca rápida pelo Google, um click no Site Wikipedia, e encontramos no artigo escrito em língua inglesa: “Villa-Lobos has become the best-known and most significant Latin American composer to date”. A afirmação, apesar de contundente, também não é suficiente para traduzir a importância do compositor para o cenário cultural brasileiro – e da América Latina.

Tampouco a impactante nota divulgada pelo Jornal da Unicamp, em 2009, que dava conta de que Villa-Lobos era mais executado em palcos da Europa do que no Brasil é suficiente para traduzir a importância de Villa-Lobos para a história do Brasil.

Resta a pergunta: o que seria suficiente para definir a importância de Villa-Lobos? Os fatos e feitos? Os números?

Vamos a um fato: o compositor, admirado na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte, empenhou viagens para o coração do Brasil, em busca da verdadeira manifestação cultural brasileira. Declarou em 1948: “Tenho sido duramente atacado, inúmeras vezes, pelo crime de dizer a verdade. Não entendem os meus detratores que quando eu aponto o que acho errado no Brasil, estou simplesmente colaborando para que se corrijam os erros e se transforme a nossa Pátria na Terra Ideal com que todos nós, os seus filhos, ansiamos de todo o coração. Aliás, não admito que ninguém seja mais Brasileiro, mais Patriota do que eu. Honro-me de ser um artista feito exclusivamente no Brasil, onde estudei e onde me fiz, não tendo mesmo nem sequer me aperfeiçoado no estrangeiro, como é hábito entre nós. Por isso, os sucessos, ou melhor, as vitórias que porventura tenho conseguido, são sucessos do Brasil, vitórias integralmente nossas, que me dão mais e mais força para apontar os erros comuns em nossa terra”.

Vamos a um feito: suas partituras foram editadas distantes do Brasil por intermédio da infuência de ninguém-mais-ninguém-menos do que o mítico pianista Arthur Rubinstein. Villa-Lobos declarou, em 1921: Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei formar a minha Cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio, verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente, pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, Estado por Estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas idéias.”

Vamos a um número: Villa-Lobos escreveu cerca de 1200 peças, e declarou em 1951: “A Música vai de uma Alma à outra. Os pássaros conversam pela Música; eles têm coração. Tudo o que se sente na vida se sente no coração. O coração é o metrônomo da vida. E há muita gente na Humanidade que se esquece disso. Justamente o que mais precisa a Humanidade é de um metrônomo. Se houvesse alguém no mundo que pudesse colocar um metrônomo no ‘cimo da Terra’, talvez estivéssemos mais próximo da Paz. Por que se desentendem, vivem descompassados Raças e Povos? Porque não se lembram do metrônomo que guardam no peito: o coração. Foi fadado por Deus justamente no Brasil possuir uma forma geométrica de coração e haver um ritmo palpitante em toda a sua Raça.”

Porém, nem fatos, nem feitos, nem números. Argumentos suficientes para traduzir a importância de Villa-Lobos para o cenário cultural brasileiro – e mundial – são, mesmo, fartamente encontrados quando a gente para e ouve sua extraordinária música.

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