Um mundo sem história

Ian Perlungieri, aluno do 5° semestre do curso de Propaganda e Marketing ESPM / SP

Os melhores filmes de Tim Burton são os mais antigos, entre eles Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish) e Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands). Enquanto Peixe Grande conta a história de um grande contador de histórias, Edward conta uma fábula de um rapaz cujas mãos eram tesouras. Tanto uma quanto a outra mesclam realidade com fantasia, o que é comum na filmografia do diretor e ambas, curiosamente, têm como protagonistas um personagem de nome Ed (Ed Wood também, coincidentemente).

A qualidade e relevância do trabalho do diretor se divide também entre os críticos, visto que ele explora suportes diferentes variando de stop-motion (A Noiva Cadáver, originalmente Corpse Bride) a infantis (Os Fantasmas Se Divertem, originalmente Beetle Juice). Os contornos sombrios e soturnos presentes em praticamente toda a sua obra dão aos seus filmes o espírito original dos contos de fadas, dando-lhe uma quantidade relativamente grande de fãs. As inconsistências narrativas das suas histórias são rebatidas pelo realizador que afirma que, para ele, o mais importante são as imagens e que elas que são a verdadeira história.

Entretanto, atualmente, os filmes do Tim Burton tem adquirido um cunho mais comercial ao pensar em Sombras da Noite (Dark Shadows), Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland) e o remake de A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory), com narrativas mais fracas do que o normal para os que estão acostumados com seus filmes mais antigos.

O diretor defende a imagem, tão presente no mundo de hoje onde temos que comprovar a própria existência a cada instante por meio de posts no Facebook. Tão presente hoje e sempre onde tivemos que construir as mais diversas imagens próprias para se adaptar em cada contexto social. Mas e a história? A narrativa? Julgamentos ainda têm ocorrido com alguma frequência sem ter a ideia verdadeira da história, vide a mulher linchada em uma comunidade em Guarujá ao ser acusada de realizar magia negra com crianças sequestradas.

Sinto falta da história. Sinto falta de que as pessoas sintam falta da história. A imagem ganha um espaço desproporcional e, não querendo questionar o Tim Burton, as narrativas não apenas fazem falta para mim, como também para o Ed, o Ed e o Ed.

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