Tempos Modernos

Fernando Matijewitsch, aluno do 7o. Semestre do Curso de Comunicação Social

A cena é mais cotidiana do que gostaríamos: um filme que queremos muito assistir acaba de estrear. Acompanhamos todas as sinopses, as críticas, os teasers, os trailers e, agora, finalmente, ele está nos cinemas. Entretanto, em virtude de toda a correria e horários apertados de nossas vidas, acabamos não conseguindo apreciar a obra do jeito que planejávamos desde o início. É a hora de ficarmos tristes e irritados pelo longo tempo que teremos que esperar até que esse filme seja lançado em DVD, Blu-Ray e nos serviços “on demand” de nossas operadoras de TV por assinatura ou de recorrermos a meios ilegais para assisti-lo.

A Netflix e a Amazon querem acabar de vez com isso.

Não é a primeira vez que as duas empresas tentam revolucionar o mercado em que atuam. A aposta em conteúdo original de ambas as partes resultaram nas premiadas séries House of Cards, Orange is the New Black e, mais recentemente, Transparent, vencedora do 72o Globo de Ouro como Melhor Série de Comédia. A Amazon, inclusive, contratou recentemente Woody Allen para escrever e dirigir uma nova série. É a internet mostrando todo o seu poder contra a já conhecida lógica de mercado da TV. O entretenimento e a forma como lidamos com ele mudou e, dependendo dos esforços das duas empresas, mudará cada vez mais.

A Netflix anunciou o longa “O Tigre e o Dragão 2: A Lenda Verde”, sequência da trama vencedora do Oscar de 2001, para agosto deste ano. A grande novidade? O filme será lançado simultaneamente no serviço de streaming e nos cinemas, sendo o primeiro da história a realizar tal feito. Isto é, se as grandes redes de cinema americanas deixarem. Logo depois do anúncio, Cinemark, AMC, Regal e Carmike afirmaram que se recusam a exibir o filme, uma vez que a estratégia da Netflix ignora o modelo tradicional da “janela de lançamento”, onde os filmes só podem estar disponíveis para consumo doméstico entre 13 a 17 semanas depois da estreia nos cinemas. O diretor de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, comentou o projeto: “vai ser uma prova de que o ‘céu não vai cair’. São duas experiências diferentes, como ir a um jogo de futebol ou poder assisti-lo na TV”.

A Amazon, por sua vez, surpreendeu a indústria ao anunciar que, em 2015, planeja lançar 12 filmes originais, os quais ficarão entre quatro e oito semanas no cinema e, logo depois, estarão disponíveis a todos os assinantes do serviço. As janelas de lançamento também são o ponto central aqui.

Segundo o site Variety, há vários líderes de Hollywood que sabem que o consumidor não vê mais sentido em um filme ficar tanto tempo exclusivamente nas mãos dos cinemas. Além disso, os estúdios gastam milhões de dólares divulgando o lançamento do filme para, mais tarde, fazer o mesmo quando a obra chega às plataformas domésticas.

Se os esforços da Netflix e da Amazon em enfrentar o sistema convencional conseguirão mudar a maneira que os grandes estúdios distribuem seus filmes, só o tempo dirá. Mas, como bem disse Ted Sarandos, assistir um filme em casa ou na telona são coisas totalmente diferentes. Já passou da hora das grandes redes de cinema mostrarem e criarem experiências para comprovar isso aos seus consumidores.

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