Popularidade dos apps pode matar a web

Fernando Matijewitsch – aluno de Comunicação Social da ESPM/SP

A diferença é simples. Enquanto a internet pode ser definida como o conjunto das infraestruturas, dispositivos e tecnologias por trás dos processos de conexão, a web é simplesmente o ambiente de design computacional que torna a complexa linguagem utilizada compreensível para o ser humano. Esta última parece estar com os dias contados.

Pense no seu próprio dia-a-dia. Todos os pequenos quadrados que estão, neste momento, na tela de seu smartphone são aplicativos, não websites, e funcionam de uma maneira completamente diferente da forma como a web funciona.

Pesquisas recentes já nos revelam que o tempo total gasto com os apps é o tempo que antes passávamos navegando na web. Segundo a Flurry, empresa de pesquisa analítica de dispositivos mobile, quando estamos em nossos celulares, 86% do tempo é gasto em aplicativos, fazendo com que a web só receba 14% de nossa atenção.

É uma grande mudança. Antes, imprimíamos mapas do site Apontador. Hoje, temos o Waze, que, em tempo real, nos livra do trânsito. Antes, tínhamos que ligar para o ponto ou para as cooperativas de táxi para que um veículo pudesse nos buscar. Hoje, com aplicativos como o 99Taxis, sabemos quem é o motorista que vem nos pegar, onde ele está e qual é o caminho que está fazendo. Tudo em questão de segundos.

Quando nos referimos aos aplicativos, a sensação de benefício ao usuário é quase verdade absoluta. Afinal, eles são muito mais rápidos e fáceis de usar do que o que havia antes. Entretanto, toda essa conveniência pode culminar no fim da natureza aberta, que marcou a web desde seu surgimento.

A web foi inventada por acadêmicos que queriam compartilhar informações. Facilitar o intercâmbio de dados obtidos na construção do CERN, maior acelerador de partículas do mundo, era o único objetivo. Em seus estágios iniciais, não havia motivação para controlar a web. “Empresas que gostariam de varrer as rivais do mapa foram obrigadas, pela própria natureza da web, a se unirem e chegarem a um acordo sobre as linguagens de programação comuns ”, disse Christopher Mims, escrevendo para o The Wall Street Journal.

Desta maneira, qualquer pessoa poderia colocar no ar uma página da web e qualquer pessoa teria acesso a ela. O Google nasceu em uma garagem. O Facebook, em um dormitório.

As lojas de aplicativos, contudo, são vinculadas a determinados sistemas operacionais, criando uma espécie de “jardim murado” onde Google, Apple, Microsoft e Amazon ditam as regras. A Apple, por exemplo, fica com 30% de todas as transações realizadas por meio de um aplicativo vendido em sua loja. Links também não têm espaço. Os aplicativos são ambientes fechados criados pelos desenvolvedores, sem um equivalente funcional para eles.

A própria dinâmica é diferente. “A web não era perfeita, mas criou um terreno comum onde as pessoas podiam trocar informações e bens. Ela obrigou as empresas a construir tecnologias projetadas explicitamente para serem compatíveis com as tecnologias dos concorrentes”, diz Mims. Hoje, observa o jornalista, as empresas que possuem lojas de aplicativos estão se dedicando cada vez mais em torna-las melhores (e incompatíveis) com as lojas de seus concorrentes.

Claro que a web não vai desaparecer totalmente. Facebook e Google, por exemplo, continuam dependendo dela para oferecer conteúdos que possam ser acessados a partir de seus apps. Mark Zuckerberg, no entanto, já deu o primeiro passo para desafiar esta dependência. O Facebook tem planos de abrigar notícias e publicações dentro de seu próprio aplicativo, o que deixaria a web com menos atenção ainda. Talvez, daremos uma olhada nela só por alguns minutos, como mera curiosidade.

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