Como a moeda que uniu a Europa também potencializou a crise

Alexandre Siviero, Gabriel Fernandes, Giulia Dahdah, Giulia Laseri, Rafael Costa e Renan Reis  –  Alunos do Curso de Jornalismo da ESPM / SP

O Euro completou 15 anos de existência no começo deste ano. Sua instituição em janeiro de 1999 uniu economicamente os principais países da Europa Ocidental, mas sua criação mirava uma unidade muito além da monetária. Com a Alemanha reunificada, a ideia era “amarrar” os países sob uma mesma moeda para evitar que um terceiro grande conflito se espalhasse pelo território europeu, já que qualquer confronto em um cenário de interdependência monetária traria consequências desastrosas para a economia de todos os participantes do bloco.

A ideia funcionou no contexto de evitar conflitos bélicos, mas mesmo no cenário de paz uma catástrofe econômica assolou a União Europeia. A crise grega do subprime se espalhou pelo continente graças ao comércio de títulos da dívida do país que na realidade nunca poderiam ser honrados, mas a moeda compartilhada fez com que o baque fosse muito mais poderoso.

Isso porque o Euro não foi só responsável por espalhar a crise, mas por medidas anteriores que agravaram-na consideravelmente. Os gregos distorciam números e fugiam da papelada para mascarar o tamanho de sua dívida, mas o resto do bloco mais se deixou enganar do que de fato foi manipulado. Os bancos alemães lucravam com a dívida da Grécia, ao emprestar dinheiro para o país a juros cada vez maiores e em seguida revender as dívidas para outras instituições.

Conforme se tornava cada vez mais claro que o dinheiro da Grécia tinha acabado, a UE insistia em adiar o inevitável. Os gregos temiam um pacote de resgate, classificando-o como uma sentença de morte frente ao mercado. Bruxelas tentava ganhar tempo, pressionando por reformas. A Alemanha de Merkel se recusava a ampliar a ajuda monetária, com medo de uma queda na popularidade política.

Finalmente, a dívida grega deixou de ser lucrativa para os alemães; simplesmente não poderia ser quitada. Mais de um ano depois do primeiro alerta da possibilidade de falência da Grécia, a Alemanha concordou em perdoar uma dívida de 100 bilhões de euros dos gregos. O estrago, porém, já estava feito faz tempo.

Não seria então melhor cortar a “ovelha negra” da Zona do Euro de uma vez? O retorno do drachma, mais fraco que o euro, beneficiaria a balança grega de exportações; reestabelecer o fluxo de capital externo ao país seria um bom primeiro passo para a recuperação.

Uma reflexão um pouco mais profunda apresenta o primeiro problema: a Grécia não se sustentaria tempo suficiente para o crescimento da exportação trazer efeitos positivos. Isso porque o país depende do mercado externo para diversos recursos básicos, como combustível. Sem o amparo de uma moeda sustentada pelo resto da UE, o elevado risco-país coloca em xeque toda a importação grega: basicamente, ninguém quer vender para um país falido. Além disso, sua saída apresenta o risco de um efeito dominó que removeria também Itália, Espanha e Portugal, ditos países mais fracos do bloco.

A Grécia então, após ter comprometido a integridade econômica do continente europeu, comprometeria também sua integridade política.

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