Turbulências nos radares e nas rotas dos empreendedores brasileiros

Rose Mary Lopes

Já estamos com saudades da bonança do Plano Real, da estabilização, dos avanços na diminuição das desigualdades sociais, da maior oferta de emprego, dos horizontes róseos e do clima de otimismo.

Agora, imitando o inverno que, no sudeste nos traz dias com muitos tons de cinza, aos quais o aplicativo AccuWeather aplica o adjetivo lúgubre, o clima psicológico das pessoas se mostra mais acabrunhado com as perspectivas sombrias. E a insegurança se imiscui, sorrateira, mas palpável.

Não dá mais para esconder a desaceleração da economia – relatório Focus de Mercado já sinaliza 1,49% do PIB -. Deste modo o Brasil acompanha a Russia no fraco desempenho, na contramão da economia mundial, com várias economias crescendo, e média esperada de mais 3,5% no PIB Global.

Há retração nos diferentes setores econômicos. No setor industrial, segundo o IBGE, maio registrou 5,4% de crescimento de desemprego (comparando com maio 2014): contabilizou a perda líquida de 62 mil vagas. Para os que ficaram, o bolo recebido decresceu, pois a indústria pagou 6% menos de horas trabalhadas.

O desemprego, até maio, já atingiu 243 mil trabalhadores formais, e o comércio, setor que mais rapidamente se adequa ao novo cenário, já demitiu uns 160 mil empregados, seguidos de quase 109 mil na construção civil.

Só o setor de serviços sinalizava desempenho melhor com 78 mil trabalhadores a mais. Mas, não se engane, mesmo neste setor os negócios estão sendo atingidos. É comum ouvirmos que o movimento foi bem afetado, os clientes podem até continuar, mas diminuíram a frequência.

A inflação é antecipada por especialistas acima de 9%. Tivemos aumento de juros e do dólar, crescimento do endividamento das empresas e das famílias, queda na renda dos trabalhadores e retrocesso nas conquistas, que já atinge as classes C e D.

A inadimplência das empresas – CNPJ negativados – segundo pesquisa da Serasa Experian – apontava 3,8 milhões de empresas das 7 milhões de empresas brasileiras com dívidas em março deste ano. Setores mais críticos: comércio, seguidos das empresas de serviços (de restaurantes a agências de turismo, salões de beleza), e pela indústria.

Média de R$ 22,8 mil por CNPJ, perfazendo uma dívida total de R$ 86,4 bilhões. A maior parte destas pequenas e médias empresas tem dívidas de 1 a 2 anos (20%) e 19% tem dívidas de 2 a 3 anos. Ou seja, grande parte delas já não está conseguindo receita suficiente para saldar as suas dívidas.

Se a empresa tiver tomado créditos e financiamentos internamente (em Reais) ou externamente (em dólar) a situação é preocupante, pois as receitas são decrescentes. Até a gerente geral do FMI Christine Lagarde expressou preocupação (Agência Estado, 16/04/2015) com esta situação.

Com o cenário de custos crescentes – energia elétrica, combustíveis, água, majoração nos pedágios e transportes etc – a tendência é de que as margens continuem a decrescer, pois é bastante difícil majorar os preços para o consumidor.

Pois, a inadimplência dos consumidores medida pela Serasa Experian subiu em Maio 2015, atingindo 4,8%. Principalmente por dívidas com bancos e outras dívidas não bancárias: financeiras, cartões de crédito,contas de água, telefone e de energia elétrica, lojas em geral.

As expectativas dos consumidores caiu conforme o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor – INEC – (da Confederação Nacional da Indústria): 2,5% do mês passado para cá, e quase 10% em comparação a um ano atrás. Consumidor sem otimismo fica na retranca, adia compras e mais dívidas.

Assim, empreendedor: todo cuidado com a parte financeira do seu negócio é pouco. Você precisa, mais do que nunca, ter e acompanhar o seu fluxo de caixa. Examine profundamente os seus custos e controle muito os custos variáveis e aqueles que possam ser adiados ou sejam superfluos.

Juntamente com seus colaboradores precisa fazer mais esforço para obter receitas, retendo os clientes, buscando os que estão inativos e fazendo promoção para atrair outros. Precisa fazer mais com menos, procurando inovar. Os tempos são de turbulência que aí está para testar a competência e resiliência de todos.

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