Tudo ao mais constante: e agora?

Raphael Almeida Videira

A ciência econômica utiliza alguns termos de outras linguagens para explicar determinadas situações. Ceteris Paribus ou Coeteris Paribus é um termo em Latim que significa “todo o resto constante” e é extremamente utilizado para expressar uma condição de estática comparativa, por exemplo, em que é avaliado o comportamento de uma variável, com as demais mantidas constantes. Com esta idéia em mente, este artigo pretende ilustrar a atuação do Banco Central Brasileiro e os impactos de sua medida frente aos problemas de crescimento econômico do país, tomando como base o cenário econômico internacional.
As projeções para o crescimento da economia mundial para o ano de 2019 enfrentaram nova rodada de revisões, segundo dados divulgados pelo FMI1 no mês passado. Os resultados mostraram a potencial desaceleração da economia mundial de 3,3% (de acordo com o mesmo relatório, porém publicado em abril de 2019) para 3,2%. As projeções de crescimento para o ano de 2020 também seguem a mesma tendência de redução, de 3,6% para 3,5% em comparação ao mesmo relatório no período anterior.
Tais revisões foram realizadas em um cenário de agravamento das tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos, com ambos os países impondo e elevando as tarifas de importações para produtos comercializados entre si. Além deste fator absolutamente importante para as relações comerciais, outros fatores nesta mesma esfera são apontados como determinantes para a redução de tais projeções como as incertezas sobre o NAFTA e o Brexit.
Com este panorama de incerteza sobre a economia mundial, as projeções para a economia brasileira acompanham as revisões negativas para o crescimento do produto, porém em uma magnitude bem mais forte, especialmente para o ano de 2019, conforme ilustrado pelo gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Expectativa de Crescimento do PIB (% a.a.)
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Fonte: Relatório Focus – Banco Central do Brasil

A projeção de crescimento da economia brasileira foi afetada claramente pela redução do crescimento econômico global e fatores já expostos anteriormente, bem como por fatores domésticos que aumentaram ainda mais a incerteza sobre o bom desempenho da economia brasileira, como a questão da reforma da previdência que ainda não foi completamente resolvida e é uma condição necessária para a estabilidade da trajetória da dívida pública brasileira.
Concentrando a análise apenas na investigação sobre a atuação do Banco Central, os últimos meses mostraram uma preocupação da autoridade monetária com a capacidade ociosa da economia, incluindo a questão da taxa de desemprego. Neste ano, o Banco Central acabou por reduzir a taxa SELIC para 6% a.a. com o objetivo de estimular a atividade econômica, já que a inflação está devidamente controlada e dentro da meta estabelecida.
Se a sinalização das ações do Banco Central está clara, porque a economia ainda não retomou a sua trajetória de crescimento? Na verdade, o caminho trilhado pelo Banco Central para estimular a economia está no caminho certo, porém existe um ponto importante a ser discutido. Quando ocorrerá a retomada? Ceteris paribus ou coeteris paribus, existe uma defasagem temporal entre a decisão de política monetária e o seu efeito no PIB da economia de até 5 trimestres entre a redução de juros e o efeito no PIB. Logo, e partindo deste pressuposto, seria razoável esperar mais reduções na taxa e, talvez, em magnitudes mais fortes para o estímulo ao crescimento econômico e para a redução da incerteza gerada no ambiente de negócios.

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