Sala de Música – A linguagem universal

Kleber Mazziero de Souza

Assertiva de fundo: “quem documenta, eterniza; quem eterniza, domina”.

A escrita musical do período a que chamamos Canto Gregoriano não era apenas rudimentar; era também desigual, quase aleatória. Os símbolos gráficos eram imprecisos e desconhecidos para além dos muros sagrados da Igreja Católica. Desse modo, a grafia musical era tanto imprecisa quanto restrita a um pequeno número de pessoas. Ademais, os símbolos gráficos musicais eram todos sobrepostos aos textos dos hinos entoados nos cultos católicos; portanto, a notação musical era intrinsecamente ligada ao Latim, distante do linguajar de povos vizinhos – os germânicos, distantes dos romanos pouco mais de 700 quilômetros, eram chamados de “povos bárbaros” justamente por não dominarem a língua falada e escrita pelo Império Romano.

Teve início, então, no século VII, o processo de uniformização da linguagem e da escrita formal da música. Os primeiros exemplares dos símbolos semelhantes aos utilizados até hoje, os círculos dispostos nas linhas e entre as linhas de um pentagrama – àquela altura ainda um tetragrama –, são chamados de neumas. A escrita neumática viria a se consolidar como a Linguagem Universal da Música, o idioma lido e escrito igual e uniformemente nos quatro cantos do mundo.

Se a assertiva do primeiro parágrafo estiver correta, podemos arriscar a ilação: parte do poderio da Igreja Católica nos primeiros séculos do Medievo pode provir de aí, da uniformização da língua e da linguagem que comporia a documentação musical.

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