S.M.A.R.T. no Gelo

Clarisse Setyon

Passo horas a cada semestre tentando explicar aos meus alunos o que é um objetivo SMART.

O termo, tudo indica, foi criado pelo guru Peter Drucker, ainda nos anos 1950.

SMART não é apenas um objetivo esperto, inteligente, como pode parecer quando a palavra é traduzida para o português.

SMART é o tipo de objetivo que faz sentido as empresas traçarem. Apenas através do SMART, um objetivo pode ser realmente definido e, o mais importante, ser cobrado.

Para que a explicação fique mais tranquila, vamos partir do pressuposto que nosso objetivo seja relacionado ao número de medalhas que queremos obter em Campeonatos Internacionais, nas diversas modalidades esportivas, até 2016.

O “S” (Specific) remete à especificidade do objetivo, ou seja, eu quero ganhar medalha(s) em qual(is) modalidade(s) ? Vamos ficar com o judô. Queremos ganhar medalhas no judô. Não menos importante, especificamos que estas medalhas deverão ser ganhas em torneios internacionais. As medalhas ganhas em Campeonatos Estaduais, por exemplo, não estão no nosso objetivo. Podemos até ganha-las. Serão bem vindas, porém nosso objetivo está relacionado apenas às competições internacionais.

O “M” (Measurable) nos dá a quantificação do objetivo. Dando sequência ao nosso exemplo, queremos ganhar 2 medalhas no judô. Claro que, se ganharmos 3, será excelente, nosso objetivo foi superado. Porém, se ganharmos apenas uma, nosso objetivo não foi alcançado.

O “A” (Achievable) é responsável pela parte, digamos assim, pé no chão, do meu objetivo. Eu tenho condições de ganhar 2 medalhas em Campeonatos Internacionais de Judô, até 2016? Ou seja, meus atletas reúnem condições para tal feito? A posição atual deles no ranking permite esta pretensão ? Eles têm treinadores que podem ajudá-los a tornar este objetivo uma realidade? Minha Confederação tem recursos para o envio de atletas a estas competições? Se nada disto existir, por que sonhar com as 2 medalhas se elas são impossíveis? Objetivos impossíveis desmotivam a equipe. O objetivo pode ser difícil, mas deve ser possível.

O “R” (realistic/relevant) apresenta a importância, a relevância do objetivo escolhido. Ou seja, este é o momento certo para pensarmos em medalhas no judô ? Não seria melhor focarmos no remo? Ou ainda, este objetivo está alinhado com os demais objetivos, digamos, do Comitê Olímpico? Este objetivo é relevante o suficiente para que o judô possa receber os recursos que necessita?

O “T” (time related) tem a ver com o tempo disponível para que o objetivo seja atingido. Afinal, dizer apenas que nosso objetivo é ganhar 2 medalhas no judô, em campeonatos mundiais e não definirmos uma data para isto, pode ser muito fácil, certo? Podemos ir tentando ganhar medalhas até 2086!!! No caso do nosso exemplo, temos uma data: até 2016.

Resumindo, nosso objetivo SMART é: Ganhar 2 medalhas (quantificado) no judô em Campeonatos internacionais (específico, e, assumimos que é possível e relevante), até 2016 (tempo definido).

Mas o que toda esta teoria tem a ver com Marketing Esportivo?

O tema me veio à cabeça quando li a declaração do presidente da CBDG (Confederação Brasileira de Desportes do Gelo) sobre o desempenho da equipe brasileira em Sochi.

Ao ser questionado sobre o futuro destes atletas, ele afirma que “Vai dar resultado até 2026”.

Este objetivo me pareceu bem distante de um objetivo SMART. Se o dirigente pretende sair por aí batalhando por patrocínio, ele terá que falar a língua dos executivos. Executivos falam SMART !

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