Propaganda do terror 2. O ‘pathos’ que nos move.

Pedro de Santi

No último dia 12, aconteceu na ESPM o debate sobre a propaganda do terror do Estado Islâmico. O evento foi muito bem sucedido.

Na semana passada, escrevi da perspectiva da eficiência psicológica dos vídeos sobre nós. Trago hoje um pouco do muito que aprendi sobre comunicação, sobre a situação atual do oriente médio e sobre o situação do terrorismo hoje.

O Prof. João Matta partiu de uma experiência pessoal em Londres e desenvolveu uma reflexão na qual despontou um modo de funcionamento da mídia: a tomada de uma parte como o todo. Algo que acontece pontualmente e com intensidade torna-se foco de toda a atenção da mídia e atrai a atenção do público. Há então uma superexposição que hiperdimensiona o acontecimento. E o público demanda por mais, num círculo vicioso.

O convidado da noite, o jornalista Guga Chacra, em acordo com a posição de Matta, demonstrou o funcionamento deste princípio na situação atual do Oriente Médio. Informados pelos meios de comunicação, inevitavelmente produzimos generalizações. Pensamos que em todo o oriente médio as mulheres usam burcas e são cidadãs de segunda classe, que todos os muçulmanos são terroristas, ou mesmo que o terrorismo esteja em alta. Guga trouxe dados atuais (e enumerados de forma caudalosa) segundo os quais, na realidade, o terrorismo está em queda em seu poder de ação há anos. Há inúmeras subdivisões e particularidades de grupos, etnias e religiões na região. E, em cada religião graus de relação não necessariamente fundamentalistas. O Estado Islâmico, tão violento, não seria um grupo terrorista e não realizou ataques fora de sua área, por ora.

O que fica evidente nisto é, uma vez mais, a eficácia da propaganda, numa dinâmica que envolve os acontecimentos, os posicionamentos dos meios de comunicação e o interesse do público.

O horror que sentimos pelas vidas de fato perdidas nos faz hiperdimensionar o poder daquele grupo, hoje. O mesmo Guga ofereceu alguns termos de comparação em termos atuais de mortalidade. Há mais mortes por violência no Brasil que nas guerras do Oriente Médio, há mais mortes por suicídio do que mortes na guerra.

Mas a notícia sobre milhares de mortes não nos comove como a visão da execução de uma única. A morte de milhares de pessoas é inteligível, mas não concebível: entendemos, mas não conseguimos representar, tangibilizar. Mas na história de uma pessoa conseguimos nos projetar e sentir empatia e compaixão. Daí a força dos mitos de herói. A descoberta de que alguns dos executores são jovens europeus trouxe o mesmo sentido de identificação, gerando um grande interesse: quem são eles, como vieram a aderir ao EI? Eles sofreram uma lavagem cerebral ou, absurdo que nos perturbaria, escolheram matar e morrer?

Voltamos ao fator psicológico, o sucesso da propaganda do terror em se tornar assunto, como aqui entre nós, está em sua capacidade em mobilizar identificações e alta intensidade de excitação.
Empatia, compaixão, excitação: sempre o ‘pathos’ que nos move. Apatia, o mal que nos assombra.

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