Papo de Professor

Edmir Kuazaqui

Achei muito legal a discussão na sala dos professores e quero desmistificar o que nós falamos enquanto não estamos em sala de aula. Estreou recentemente no Brasil o filme Interestelar, de Christopher Nolan, e na semana seguinte, vários professores estavam reunidos em círculo, sentados em sofás e cadeiras, uns trinta minutos antes do início das aulas do período noturno.
Começou com uma conversa despretensiosa, envolvendo futebol e outros assuntos voltados à tentativa de maquiagem do governo, até a hora em que alguém perguntou se tinham assistido o referido filme. Primeiro, o que chamou a atenção é que todos tinham assistido, o que me fez concluir que o diretor deve fazer parte das preferências dos professores ou a comunicação deve ter sido muito boa. O diretor é bastante cultuado, devido aos seus roteiros muito bem elaborados, efeitos especiais e trilha sonora.
Depois, entusiasticamente começaram a opinar sobre o filme. Todos apreciaram o filme, mas vários professores afirmaram não ter gostado de alguns pontos ou ideias do filme. Particularmente, não gostei de parte do final, com as sequencias após a entrada no “buraco de minhoca”.
Na minha opinião, poderia ter terminado nesta parte mesmo, proporcionando uma dúvida na conclusão do filme. Alias, esse foi um dos assuntos mais discutidos pelo grupo, onde, devidamente embasados em leituras e documentários, afirmaram ser impossível ir e voltar pelos referidos “buracos’. Outros, acharam bastante improvável a questão das diferenças temporais, mesmo alicerçados em Einstein e Rip Thorn, que foi um consultores técnicos do filme, além de outras ideias lançadas pelo diretor. Em síntese, a discussão passou pela astronomia, história, física quântica, biologia e relacionamentos humanos numa boa, como usamos o controle remoto.
Achei exagerada a comparação com “2001: Uma odisseia no espaço”, de Stanley Kubrick. Talvez o filme se aproxime mais de “Contatos imediatos do terceiro grau”. Achei interessante o resgate de conceitos de biologia, quando o mundo era habitado por bactérias e o aumento súbito de oxigênio diminuiu as colônias e favoreceram o desenvolvimento de outras formas de vida.
Também a mensagem ecológica, onde a poluição e a degradação ambiental fazem voltar a presença destruidora de bactérias e devidamente representada pelas tempestades de poeira. O diretor opta, ao invés de criar um grande documentário baseado em ciência, em desenvolver uma ideia sobre valores morais, éticos e familiares, desprezando, ou até mesmo lançando, novas interpretações sobre a física e a mecânica quântica. A grande “estrela” do filme ‘, com certeza, é o “buraco de minhoca”, que traz a linha condutora e certa solidez ao roteiro da história.
Professores de finanças, marketing, marketing internacional, entre outras áreas do conhecimento humano começaram a dar espontaneamente e educadamente seus pontos de vista, a partir da opinião de outros. Pareceu mais um breve focus group, mas sinceramente acredito que tenha sido melhor, sem planejamento, sem roteiro de perguntas, sem mediador: só pessoas discutindo um assunto de bastante interesse para as partes.
A última vez que presenciei uma discussão tão forte e espontânea foi quando eu era aluno do mestrado e foi exibido em sala o filme “Sociedade dos poetas mortos”. Faz tempo! Enfim, essa foi experiência única, onde houve a comprovação da qualidade de conteúdos e argumentação dos professores presentes, independente de suas áreas de especialidade.

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