Painel Bienal de São Paulo – Como (….) Coisas que não Existem – Um exercício de Percepção

Regina Ferreira da Silva

No contexto contemporâneo em que somos expostos a uma multiplicidade de signos que sugerem muitas possibilidades de interpretações, somos envolvidos por uma rede de conexões entre fatos, pessoas e coisas do mundo.  Diante dessa situação, cada indivíduo busca uma forma de atribuir sentido a esses estímulos recebidos com o objetivo  de não se diluir nessa pluralidade de percepções.

As artes visuais ao provocarem inquietações e questionamentos por meio de objetos criados pela linguagem oferecem para os seus espectadores uma oportunidade para ampliar as possibilidades de leitura das coisas que acontecem no mundo.

No caso da 31ª Bienal podemos dizer que o convite feito ao visitante sugere um percurso em que as percepções são livres e imaginárias.

Na entrada os mapas criados pelo chinês Qiu Zhijie funcionam como um prólogo para a caminhada do viajante. Os desenhos traçados na parede não determinam um caminho a ser percorrido, mas sugerem que muitas narrativas inesperadas podem ser criadas durante a viagem pelo espaço da Bienal.

Em Histórias de Aprendizagem, a artista chilena Voluspa Jarpa questiona  as representações da história, principalmente no que se refere aos meios de comunicação. Para tanto, ela cria uma instalação labiríntica composta, por arquivos da CIA sobre a ditadura brasileira e documentos dos serviços secretos brasileiros produzidos durante os mandatos dos presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. No caso de João Goulart ela ainda incluiu registros sobre o exílio no Uruguai e o suposto assassinato na Argentina em 1976, investigado como parte do plano coordenado entre as ditaduras do Cone Sul.

Muitos documentos, antes de serem liberados para o público tiveram muitos trechos riscados. Além desses riscos a artista estruturou a instalação de tal  forma que o espectador não consegue ler nada do que está escrito nos documentos, restando-lhe apenas imaginar o conteúdo desses documentos. Dessa forma a possibilidade de revelação se transforma em impossibilidade.

O peso das revelações que esses documentos poderiam revelar são organizados na instalação com leveza e transparência que provocam cegueira. Restam apenas narrativas imaginárias.

A 31ª Bienal apresenta ainda muitos vídeos, fotos, histórias e textos de diversas modalidades que provocam diálogos inesperados  com os espectadores. Cada um relaciona as obras expostas, cria suas próprias narrativas e atribui sentido ao que percebe.

Dessa forma, os artistas criam coisas que ainda não existem, enriquecem o mundo e nos oferecem múltiplas formas poéticas de enxergar ou imaginar a realidade.

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