Os livros no País da censura

Cézar Veronese  Professor do CPV Vestibulares

A censura a biografias não autorizadas volta à cena. Desta vez quem dançou foi o livro  MICK – THE WILD LIFE AND  MAD GENIUS OF JAGGER, biografia do líder dos Rolling Stones escrita por Christopher Anderson. Como todas as biografias e “autobiografias” (sempre escritas por um ghostwritter) de astros pop, atores e atrizes e outras celebridades, o que o leitor encontra é uma infinidade de fofocas e detalhes dos mais desinteressantes possíveis. Leituras que não matam nem a insônia ou o tédio de uma viagem de avião. Mas os fãs não querem saber de nada disso e compram o livro. Aliás, há pelo menos umas cinco décadas  publicam-se livros sobre os Stones, nos quais os biógrafos se estendem por dezenas de  páginas revelando coisas como  o tipo de drogas que eles consumiam  e consomem.
A edição brasileira do livro de Anderson sofrerá cortes no capítulo em que se informa sobre os encontros entre Mick e  Luciana Gimenez. Os advogados da apresentadora exigiram os cortes e a editora preferiu aceitá-los a correr o risco de ter a edição retirada do mercado. Os gestos, dos advogados e da editora, revelam autoritarismo e falta de ética. Da parte dos advogados evidenciam a negação ao direito de liberdade de expressão; da parte da editora, uma falta de ética que acusa a lógica do “topa tudo por dinheiro”. Por outro lado, advogados e editora mostram-se hipócritas. Qual o sentido de suprimir informações sobre a vida de uma apresentadora que não se cansa de se exibir e que foi a responsável maior pelo alardeamento do seu affair com Mick Jagger? O que há para esconder num caso que ganhou várias capas de revistas de fofocas?
O Brasil tem testemunhado vários casos de censura, encabeçados por Roberto Carlos. Há pouco mais de um ano, Alice Ruiz, uma poetisa de rara sensibilidade, tentou barrar uma biografia sobre seu ex-companheiro, o escritor Paulo Leminski. Outro gesto incompreensível que só pode ser justificado por questões de dinheiro, pois há mais de uma década Toninho Vaz publicou O BANDIDO QUE SABIA LATIM, uma ótima biografia sobre o escritor paranaense, na qual comenta em detalhes todos os argumentos que levaram Alice a querer barrar a nova biografia.
Enquanto isso, o Brasil vai computando outros fatos, como os dados anunciados pela 8a. Edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que revelou que a cada 10 minutos uma pessoa é assassinada no país (cerca de 51 mil vítimas por ano). Ou ainda a denúncia de que, mais uma vez, o tema da redação do ENEM vazou.
Para ler outros textos do Prof. Veronese, acesse blog do CPV, lind Dicas Culturais do Verô

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