Os feriados sem significado

Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Em todos os calendários das mais diferentes culturas, os feriados são celebrações de datas nacionais, religiosas ou de algum acontecimento de particular interesse para um povo. Mas no mundo da pós-modernidade, das metrópoles e megalópoles, os sentidos originais das datas se perderam.

O mais banalizado de todos é, sem dúvida, o Natal, reduzido a merchandising de todos os tipos possíveis. Outros, como Finados – cuja origem se perde na noite dos tempos – também foram solapados de seu sentido sagrado. E há ainda aqueles de explícita significação política, como o 28 de junho, que se tornou o marco das lutas das minorias sexuais, quando estas resolveram enfrentar a polícia novaiorquina no bar Stonewall Inn, na noite de 28 de junho de 1969. A data tornou-se o Dia Internacional do Orgulho Gay, mas em São Paulo é comemorado sempre no feriado de Corpus Chisti, porque a Parada Gay se transformou no evento mais lucrativo da cidade, só perdendo para o Salão do Automóvel.

O sentido da comemoração é simplesmeste substituído por possibilidades de negócios e estatísticas. Nesta semana teremos o feriado prolongado que conjugará a Paixão de Cristo e Tiradentes. E o que veremos? Em todos os canais de TV, uma repórter se esgoelando da janela de um helicóptero feito uma maritaca, para informar o número de automóveis que deixaram São Paulo, a lentidão do trânsito em direção ao litoral, a previsão de chuva ou sol… E essa imagem das rodovias congestionadas será a manchete, provavelmente, de todos os jornais.

O feriado é transformado em comércio, assentado em aborrecimento e tédio do mais alto grau. Sabemos que é sempre assim, e o paulistano irá repetir a mesma receita. O 21 de abril, então, exceto na vida escolar, já é praticamente um nada para a maioria dos brasileiros. Por isso, gostaria de lembrar um grande livro, também esquecido pelos leitores brasileiros. Trata-se do ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, de Cecília Meireles, lançado em 1953.

Os 96 poemas que o integram são o resultado de uma pesquisa histórica de dez anos e neles a autora tenta compreender o significado da luta pela Inconfidência, num distanciamento de quase 200 anos. Ao contrário da poesia etérea, “pure” e atemporal que caracteriza sua obra, aqui Cecília se debruça sobre homens, mulheres, políticos, artistas e lugares. Os textos, embora escritos a partir de uma realidade histórica, como toda grande obra literária, podem ser lidos hoje também como alegorias da pusilanimidade de tantos homens públicos que tomam decisões em nossas câmaras municipais, no Congresso e no Senado.

Para ler outros textos do Prof. Veronse, acesse blog CPV (link Dicas Culturais do Verô).

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