Impacto da Presença Digital no Resultado Financeiro das Empresas

Claudio Oliveira

As alterações que as mídias digitais provocam na cadeia de valor possibilitam que as empresas se tornem ainda mais eficientes, obtendo resultados mais previsíveis e aproximem seu relacionamento dos consumidores. Nem todas aproveitam essas novas tecnologias, mas elas estão postas e são mais acessíveis do que nunca. Até mesmo pequenos negócios conseguem implantar uma campanha digital, controlar seus resultados e administrar sua produção usando ferramentas gratuitas ou de baixíssimo custo.
Posto isso, talvez valha a pena perguntar como as empresas se apropriam das mídias digitais e como elas afetam o resultado financeiros das empresas. Estudo do MIT Digital Center em conjunto com a consultoria Capgemini separou as empresas em quatro grandes grupos de acordo com sua maturidade digital (WESTERMAN et al., 2012):
Iniciantes – Possuem poucas capacidades digitais, limitam-se a aplicações mais tradicionais. Obtêm lucro até 24% menor que a concorrência, mostrando que ficaram para trás na competição por subestimarem projetos mais arrojados de tecnologia.
Fashionistas – Experimentaram diversas aplicações digitais, algumas criaram valor, porém muitas não geraram resultados. Essa variabilidade impacta negativamente o lucro, gerando resultados até 11% abaixo da concorrência.
Conservadores – Privilegiam segurança em vez de inovação, realizam investimentos seletivos, mas consistentes, em tecnologia e mídia digital. Essas empresas obtêm lucro até 9% maior que concorrentes, mostrando que, apesar do conservadorismo, a coerência dos investimentos em digital com a estratégia são recompensados.
Digirati – Realizam investimentos agressivos em digital alinhados com visão estratégica e capacidade de execução. Conseguem lucro 26% maior que o dos concorrentes, utilizam as mídias digitais para gerar vantagem competitiva e realizam iniciativas que são alinhadas com a estratégia de negócios.
Esses estudos são bastante reveladores e servem de inspiração para tomada de decisões estratégicas. Porém, refletem a situação de empresas estrangeiras. O ESPM Media Lab (2015) procurou verificar essa relação entre presença digital e lucro em empresas brasileiras e analisou 4 indústrias: automotiva, bancária, telecomunicações e eletro / eletrônicos. Verificou-se que em todas as indústrias as mídias digitais se relacionam com resultados financeiro, mas que em algumas delas, a relação é mais intensa. No mercado automotivo, notou-se uma relação moderada entre vendas e visitas aos sites das montadoras. No mercado financeiro, nota-se uma forte relação das variáveis de visitas e buscas no Google com todos os indicadores financeiros: faturamento, crescimento, lucro e rentabilidade. Essas relações demonstram que a prestação de serviços via internet banking e a busca de produtos associada a marca dos bancos é relevante na competição digital. As indústrias de telecomunicações e de eletro/eletrônicos apontam para relações mais complexas entre mídias digitais e resultados financeiros.
Na indústria de eletro / eletrônicos, as variáveis de mídias sociais são destaque. Tanto os seguidores no Twitter, como o número de inscritos e views no Youtube se relacionam com resultados financeiros. O número de Youtubers e Twitter followers possui correlação muito forte com o crescimento dessas empresas, talvez sinalizando a importância dessas mídias na aquisição de novos consumidores. Adicionalmente, o número de visitas ao site se relaciona de forma moderada com o lucro dessas empresas.
No mercado de telecomunicações, as empresas que conseguem melhores resultados com a presença digital são aquelas que privilegiam a usabilidade de seus sites, pois no site dessas empresas, os usuários navegam por mais tempo e a maior parte dos usuários navega além da primeira página. Canais sofisticados no Youtube também são relevantes nessa indústria, pois o número de inscritos e de views se relacionam com lucro e rentabilidade respectivamente. Assim como o volume de buscas no Google que se relaciona com o crescimento no faturamento, pois o fato da marca ser lembrada é importante na competitividade.
Porém, eventualmente, pode-se questionar a aplicação prática dessas relações, afinal: para que servem esses modelos sofisticados em plena crise? Uma das aplicações é fornecer um cenário comparativo da performance das empresas e permitir que se elaborem estratégias para se conseguir obter vantagem competitiva com essas mídias. Para tanto, foi criado o Ìndice de Presença Digital (IPD), esse índice é baseado na performance das mídias digitais ponderada pela relação que cada uma dessas variáveis tem com o lucro das empresas (OLIVEIRA et al., 2015). Ele permite estabelecer um ranking das empresas de acordo com a presença digital e visualizar o detalhe da performance das empresas em cada variável, como pode ser visto na figura 1 que registra o IPD das empresas de Telecom.

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Figura 1: Ranking do Índice de Presença Digital das operadoras de Telecom

Uma outra aplicação do IPD é a empresa verificar quais são as mídias digitais que requerem melhoria, quais devem melhorar urgentemente e quais as mídias que estão num padrão de performance aceitável. Essa análise é facilitada pela matriz de importância e desempenho, onde a importância é proporcional a relação com o resultado financeiro e o desempenho é relativo a performance dos concorrentes. Ao incluir os dados de determinada empresa nessa matriz, nota-se com clareza as variáveis que devem ser priorizadas. Por exemplo, na figura 2, que representa a matriz da operadora TIM, as variáveis permanência no site e tempo no site, possuem desempenho adequado, pois a operadora possui nível de performance além dos seus concorrentes. Já as variáveis buscas no Google e inscritos no Youtube merecem uma atenção maior, pois tem alta relação com o lucro e a empresa encontra-se pior que seus concorrentes diretos.

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Figura 2: Matriz de importância e desempenho da operadora TIM

 

Referências:

 

ESPM MEDIA LAB. Presença Digital e Lucratividade. Pesquisas Media Lab, 2015. Disponível em http://pesquisasmedialab.espm.br/digital-analytics/. Acesso em 12 de outubro de 2015.

OLIVEIRA, C. L. C.; DUBEAUX, V. J.; PEREIRA, A. P. The Impact of Digital Presence on Competitive Advantage – a study applied on Brazilian bank industry. In Proceedings of the 12th International Conference on e-Business – Volume 1: ICE-B, p. 80-87, 2015. Disponível em http://www.scitepress.org/DigitalLibrary/PublicationsDetail.aspx?ID=yVGchbO9uRE=&t=1. Acesso em 12 de outubro de 2016.

WESTERMAN, G., TANNOU, M., BONNET, D., FERRARIS, P., MCAFEE, A. The Digital Advantage: How Digital Leaders Outperform Their Peers in Every Industry. Capgemini Consulting and The MIT Center for Digital Business, pp. 1-24 (2012).

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