Imagens não banalizadas

Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

O barateamento da tecnologia digital disponibilizou câmeras e celulares para todos. E todo mundo virou fotógrafo. É comum ouvirmos que alguém tirou 5 mil fotografias durante a última viagem, pessoas postam no facebook a foto do soluço do poodle, enquanto outros, em pleno estádio de futebol ou pista onde acontece o show, preferem ver o espetáculo pela minúscula tela do celular, ao invés de curtir a experiência única da vibração do gol ou da performance do artista no palco.

Em tempos de tamanha banalização das imagens, convém perguntar: alguma fotografia pode ainda captar o real sem a intenção de exibi-lo para o consumo imediato e descartável? O mais recente trabalho de Sebastião Salgado dá uma resposta positiva a esta pergunta. Em cartaz simultaneamente em várias cidades de vários continentes, a exposição GENESIS (em São Paulo no Sesc Belenzinho) é orientada pela ideia de mostrar o que ainda não foi banalizado, como santuários ecológicos e paragens distantes da desgraça feérica da chamada civilização.

Dando continuidade a uma linguagem já desenvolvida em outros projetos, como as séries TRABALHADORES e EXODUS, Salgado opta pelo austero preto e branco e flagra animais em seu habitat natural, assim como seres humanos que ainda vivem completamente alheios às técnicas da industrialização. As tartarugas e iguanas gigantes do arquipélago de Galápagos, bem como as colônias de pinguins-de-barbicha e os leões marinhos que habitam a ilha da Geórgia do Sul, compõem quadros únicos. Selvagens, esses lugares reservam uma quase exclusividade para cada espécie. Nas Malvinas, por exemplo, há uma ilha onde vivem cerca de 500 mil albatrozes, a maior colônia dessa espécie no mundo.

Na África estão as savanas e outras paisagens onde reinam as girafas, os leões e tantos outros felinos. E na Sibéria estão os trenós de muitos cães. Entre uma espécie animal e outra, emergem, talvez mais soberanos ainda, a flora e o mundo mineral. Dos gigantescos baobás africanos às sinuosidades do Rio Negro e mais o salto de Ángel, o mais alto do mundo, no coração da Venezuela, de onde a água brota da rocha para precipitar-se 979 metros abaixo, esvaindo-se em névoa irisada…

Bichos, plantas exóticas e exuberantes, matéria mineral. As forças indomadas da Natureza em meio à qual se move o bicho homem. Não o homem cibernético, nem o homem lúpen marginalizado nas periferias das megalópoles industrializadas. Mas o homem que ainda se encontra integrado à natureza, nas planícies da Zâmbia, nos confins da Indonésia e da Papua Nova Guiné, ou no coração da floresta amazônica.

E é sobre isso que Sebastião Salgado quer chamar a atenção. Sobre o planeta que ainda existe e precisa ser preservado, questão primordial em tempos de reificação capitalista, quando alguns querem reduzir o mundo a um balcão de negócios. O planeta que AINDA existe e é o único que temos. Para quem não pensa assim, remeto-vos ao livro CRIAÇÃO IMPERFEITA, de Marcelo Gleiser, no qual, com todo o aval da ciência, ele nos mostra a humana impotência (que pode durar milhares de anos – e o que faremos até lá se não preservarmos esta Terra?) de chegarmos a qualquer outra galáxia.

A exposição GENESIS permanece em cartaz em São Paulo até o dia 01.12.13, no Sesc Belenzinho. É mais interessante vê-la à noite (o espaço permanece aberto até as 21h00), pois há um conjunto de fotografias no jardim e este fica mais interessante com a iluminação noturna.

Para ler outros textos do Professor Veronese, acesse blog CPV (link DICAS CULTURAIS DO VERÔ)

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