Guerra comercial e as Cadeias Globais

Alexandre Augusto Pereira Gaino

Donald Trump, durante sua campanha, afirmou que os acordos comerciais que não fossem “justos” e que, segundo ele, geram desemprego e baixa produção industrial aos Estados Unidos, não seriam tolerados. Resgatando a filosofia do “America First”. 
Um pouco mais de um ano após ele assumir o cargo, o republicano iniciou as medidas contra as relações de comércio que acreditava injustas. Em sua última decisão, no dia 17 de setembro, os EUA aplicaram tarifas sobre mais US$ 200 bilhões em importações chinesas. 
Segundo o presidente norte-americano, a imposição das tarifas é retaliação às práticas comerciais injustas da China, incluindo práticas de propriedade intelectual, programas de subsídio à indústria e estruturas tarifárias. A administração Trump também anseia, com essa ação, reverter o déficit comercial dos EUA com a China, que em 2017 foi de 336 bilhões de dólares. 
As ações de Trump podem demonstrar que, para seu eleitor médio, as relações comerciais entre Washington e Pequim tornaram piores as condições de vida do cidadão americano típico. E, talvez, essa impressão tenha um fundo de verdade. 
No início de 2016, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publicaram um estudo em que analisaram as relações comerciais entre Estados Unidos e China. Os autores da pesquisa concluíram que essa relação “afetou dramaticamente um grande número de indústrias que empregavam muita mão de obra nos Estados Unidos”. 
O estudo mostra que os setores intensivos em trabalho (tais como: têxtil, calçados, móveis, alimentos, fabricação de produtos de metal, dentre outros) deslocaram-se para a China, aproveitando os custos mais baixos da mão-de-obra. Segundo os autores: “Quando os empregos desapareceram, os trabalhadores mais bem preparados puderam se recuperar, mas muitos não conseguiram, e comunidades inteiras foram castigadas economicamente.” 
Entretanto, como aponta Marília Bassetti Marcato, pesquisadora do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT/Unicamp): “Uma das características mais marcantes da onda recente de globalização é o aumento da fragmentação da produção mundial em diversos estágios internacionalmente dispersos. Nessa economia global cada vez mais interconectada, a produção da maioria dos bens depende de etapas do processo produtivo localizadas em diferentes (poucos) países e os insumos intermediários atravessam as fronteiras domésticas múltiplas vezes.” 
Mesmo se o efeito teórico no PIB for limitado e as importações em parte substituídas pela produção local, favorecendo alguns setores, que encontram-se deprimidos desde os anos 1980, a maioria dos empregos perdidos não retornará, devido ao progresso da tecnologia e do avanço das redes globais de fornecimento. Então, o resultado seria a significaria desarticulação de linhas de produção concebidas para uma economia globalizada e a falência em massa de indústrias hoje prósperas. 
Embora a impulsividade do presidente dos EUA tenha piorado as relações entre as superpotências, ele é apenas um sintoma do ordenamento econômico mundial e das restrições às ações nacionais, limitadas pelas regras de comércio internacional, e não a sua causa, como apontou Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard. Contudo, o custo da guerra comercial, é claro, será pago tanto por aqueles que perderão empregos e poder de compra quanto pelas empresas que assistirão ao enfraquecimento da sua capacidade de competir internacionalmente.

Referências: 
https://www.cartacapital.com.br/blogs/brasil-debate/a-politica-comercial-de-trump-a-escalada-da-ignorancia 
https://economics.mit.edu/files/12751 
https://oglobo.globo.com/economia/guerra-comercial-saiba-que-china-eua-ja-a

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