Games são arte?

Por Mauro Berimbau

Esta pergunta tem alimentado um debate que surgiu entre os game designers, consumidores, associações e governo quando a ministra Marta Suplicy apontou que os jogos eletrônicos não contariam como artigos válidos para o Vale-Cultura. Para defender seus interesses, cada lado tem apresentado argumentos que colocam em questão o que é arte e cultura. Que armadilha! Essas definições estão muito longe de ser um consenso, quanto mais a identificação de suas fronteiras. Se é que existem, de fato.

Como pesquisador, vejo que a questão tem uma resposta bastante direta: Não. Games são mídia.

Como nos conta o filósofo Douglas Kellner (2001), as produções midiáticas (cinema, programas de TV, novelas, músicas, livros…) se transformam em mercadorias, cujas “imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade”. Apesar de não ser esse o enfoque do filósofo, vejo que esta é uma descrição que se enquadra nos games também – pois, assim como outras mídias, pertencem a nossa cultura, (re)produzindo-a. Apenas como exemplo, convido o leitor a pensar no Mario Bros., Pac Man e Space Invaders como parte dessas produções midiáticas, e nos contatos que temos com esses símbolos que já não se limitam a sua aparição no jogo, mas estão nos toques de celular, tatuado na pele, pichado nos muros da cidade, apropriado pela publicidade etc.. O próprio McLuhan (1964) já considerava os jogos como mídia, pois são “situações arbitradas que permitem a participação simultânea de muita gente em determinada estrutura de sua própria vida corporativa ou social”. Assim, podemos identificar os jogos como parte dessa produção midiática que influencia a sociedade contemporânea. Produtos culturais que pertencem ao nosso repertório, nosso cotidiano. Meu ponto apenas é: este pode não ser um efeito necessário da arte, mas seguramente é um efeito das mídias.

Essas discussões ainda continuarão, especialmente porque não se sabe ao certo o que é cultura, o que é arte e, infelizmente, o que é game. Minha hipótese é de que é uma mídia, que ainda estamos aprendendo a lidar.

Fontes:

AARSETH, Espen. Cybertext: Perspectives on Ergodic Literature. The Johns Hopkins University Press: Maryland, 1997.

FRASCA, Gonzalo. Simulation versus Narrative: Introduction to Ludology. Routledge: 2003. Disponível em <http://www.ludology.org/articles/VGT_final.pdf&gt; . Último acesso em 28 de outubro de 2008.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. São Paulo: EDUSC, 2001.

McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. Ed. Cultrix: São Paulo, 2003.

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