Freud, um aniversariante de ontem

Pedro de Santi

Vivo estivesse, no último dia 6 de maio, Freud teria completado 162 anos!
Mas morreu em 1939, em Londres, tendo vivido o exílio de Viena um ano antes.
No limiar do início da segunda grande guerra, assistiu desolado sua Austria abrir as postas para a anexação pela Alemanha nazista.
Tivesse vivido um pouco mais, saberia que seus irmãos e irmãs foram mortos em campos de concentração.

Com relação à psicanálise, sua teoria, seguiria vendo basicamente o mesmo que via então: sua importância clínica e na compreensão da cultura, ao lado de críticas que apontam o que ela tem, na realidade, de melhor: sua transcendência ao reducionismo biologizante; sua dimensão de ciência humana, e não ciência positivista.
Mas talvez se surpreendesse em ver a psicanálise difundida em países, escolas e práticas para muito além do consultório particular. Talvez se surpreendesse ao ve-la viva numa forte corrente crítica e política num remoto país da América do Sul. Paradoxalmente, mesmo com a força da psicanálise nestas bandas, só agora veria sua obra receber traduções diretas do alemão. Em compensação, em 3 projetos editoriais importantes e diferentes.
Quando se aproximava por mar da América do Norte, em 1909, anunciou que trazia consigo uma praga. A praga da reflexão, do pensamento crítico, da auto-crítica da razão, da potência dos afetos, do inconsciente e da sexualidade.
A praga segue, e segue sendo necessária contra as pragas maiores da auto-ajuda, do auto-engano, da redução da vida ao mundo da técnica e de todos os discursos que se instalam na posição alienada se si-mesmos, na posição ativa de vítimas a pretender controle sobre ou outros e indulgência às suas ações: a histeria- para quem Freud criou formas de entender e atender- segue firme, forte e melhor disfarçada.

Morto há pouco mais de 78 anos, Freud não assistiu à realização de alguns de seus piores temores sobre o futuro da humanidade. Melhor para ele.
Nós, que aqui estamos, tomamos parte da luta que segue e foi anunciada em “O mal-estar na civilização”. entre Eros e Tanatos (impulsos de vida e morte) sob a pressão crescente de Ananké, a necessidade.

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