Por Cézar Veronese, Professor do CPV Vestibulares
De Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, a Açailândia, no Maranhão, de Porto Alegre a Macapá, passando pelo olho do furacão das grandes capitais a cidadezinhas quase desconhecidas do interior, os protestos continuam. As tarifas foram reduzidas em dezenas de cidades, mas a população não se cala.
No diapasão das diferenças das reivindicações, uma coisa é certa: os brasileiros não engolem mais as mentiras da grande mídia. Não à toa Datena e Jabor, autoproclamados alter-egos da nação brasileira, e que a princípio se posicionaram contra os protestos, tiveram que se retratar. Se a emenda saiu pior que o soneto, não vem ao caso; mas a arrogância precisou silenciar.
Globo e a maioria das emissoras continuam a registrar “manifestações tranquilas”. É mentira: quem estava e está no meio das ruas, presencia a todo instante atos de repúdio à grande mídia e tudo o que ela representa. Pixações como as realizadas na marquise suspensa da Praça do Patriarca, em frente à Prefeitura de São Paulo, não foram mostradas.
Entre tantos cartazes prolifera a grita contra as redes de tv: “DESLIGA A TV E PENSA”, “MÃE, SAI DA TV QUE EU TÔ NA RUA”, além da montagem dadaísta na bandeira nacional, em que o logotipo da Globo acoplado sobre o círculo azul é expulso para fora do pavilhão.
Politização, humor e criatividade se juntam: “SPRAY COM PIMENTA EM BAIANO É TEMPERO”, debochava uma faixa em Salvador. Em outro lugar, dois garotões sarados abraçados exibiam em letras garrafais: “OLHA O QUE VOCÊ ESTÁ PERDENDO MARCOS FELICIANO”. E um casal de idosos na Paulista foi aplaudido ao exibir o slogan OS JOVENS DE 1968 SE UNEM AOS JOVENS DE 2013!
O alcance da internet dissemina as mensagens e contagia as pessoas como sementes carregadas pelo vento. E as legendas não acalmam. Em vários lugares, manifestantes com bandeiras de partidos políticos foram colocados para fora da passeata. O povo acorda. Acorda porque é difícil acreditar no PT que faz aliança com Maluf. Porque não é saudável ver o Partido Verde irmanado com o obscurantismo religioso. Porque não acredita mais no PMDB e no PSDB, essas legendas mais recauchutadas que o calhambeque do palhaço em número circense. Porque não quer mais comer as raspas do tacho da ditadura oferecidas pelo DEM.
Em meio a tudo isso, o Rei Pelé vai à TV Globo e pede para o povo parar de se manifestar e torcer pela seleção brasileira. Em 1964 Pelé protestou contra a ditadura e o racismo. Hoje não passa de um garoto propaganda vendido a quem mais lhe oferece. Mas o povo parece já não mais acreditar em Pelé. E arrebenta o telão de transmissão da Copa das Confederações no Rio de Janeiro.
Vandalismo? E os 28 bilhões de reais já gastos (menos da metade dos custos totais) com as obras da Copa? Essa grana é cinco vezes superior a todos os investimentos do BNDS no metrô de São Paulo nos últimos anos. Com esse dinheiro seria possível bancar um ano de educação básica em todo o país, construir um milhão de habitações populares, e etcétera e etcétera…. A bola não é mais o símbolo do Brasil. Os gritos nas ruas e as vitrines estilhaçadas mostram um país cheio de arestas cortantes.
