Desajustados (Dir.: Dagur Kari Islândia, Dinamarca, 2015)

Eduardo Benzatti

“Desajustados” é o melhor título que esse filme – coproduzido por Islândia e Dinamarca – poderia receber no Brasil (o título original remete ao nome do protagonista, “Fúsi”). Primeiro, porque são muitos desajustados que o filme retrata: o próprio Fúsi, mas também sua “namorada” – uma bipolar depressiva “barra pesada” -, os imigrantes que trabalham numa Central de Reciclagem, uma garotinha que não tem com quem brincar, uma mãe que não permite que seu filho cresça (no caso, a mãe do Fúsi) e outros.

O que o filme retrata – numa outra possível leitura – é a “solidariedade” (sim essa é palavra) entre esses “desajustados”. Veja que Fúsi é motivo de chacotas e bullying entre seus colegas conterrâneos no seu (monótono) trabalho, mas é bem recebido e incluído pelos imigrantes quando resolve trabalhar por um tempo em outro lugar; o mesmo vale para a relação entre Fúsi e sua “namorada” “deprê” (quem a salva da morte psíquica é Fúsi, mas quem o salva da “morte” de nunca crescer é ela: ao final Fúsi se libertará dela e da mãe quando resolve doar seus brinquedos e viajar sozinho).

E, por aí vai: é Fúsi que brinca com a criança solitária; é o seu o melhor amigo – além de um outro (locutor de rádio) que não aparece no filme – de Fúsi que tem o tempo da paciência e da camaradagem (amigo esse que como Fúsi ainda “brinca” de “Segunda Grande Guerra” e prefere não se relacionar amorosamente com nenhuma garota).

Temos, então, uma história (ou várias história que se cruzam, tendo o personagem principal como ponto de intersecção) que nos fala da solidão – psíquica e social – daquele(s) que não está (ou não estão) “ajustado(s)” a esse mundo e a essa vida onde nada parece mesmo fazer sentido. Mas, pelo menos, o que o filme mostra é que esses têm uns aos outros, enquanto nós – os “ajustados” -, bom, mudando de assunto, …

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