Desafios para os empreendedores brasileiros da cadeia têxtil e de confecções

Rose Mary Lopes

Olhando-se nossos números pela ótica interna parecemos um Golias. O Brasil cresceu em importância sendo mundialmente a quinta maior indústria têxtil. Setor que tem longa história de contribuição à economia brasileira, já registrando dois centenários de existência.

Por exemplo, na região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina há diversos grupos industriais que remontam aos imigrantes alemães, com empresas centenárias como a Hering, Buettner e Schlösser. Só nesta região existiam cerca de quatro mil empresas têxteis. Em Joinville, outra centenária é a empresa Döhler.

Trata-se de setor muito importante em empregos diretos – 1,7 milhão de trabalhadores, sendo a maioria de mulheres – 75%.

A cadeia produtiva é mais extensa ainda, pois se inicia com as fibras (artificiais, sintéticas e naturais) que são trabalhadas pelas fábricas de fiação, que alimentam as fábricas de tecidos planos e as malharias. Por sua vez, alimentam a indústria de confecção que se desdobram em diversos segmentos: industriais, de vestuário, cama, mesa e banho, decoração e limpeza.

E, analisando a ligação com a indústria de moda, a sua infiltração na economia se avoluma ainda mais, pois é a segunda maior indústria de transformação em termos gerais de emprego e de oferta de primeiro emprego. Só o comércio registrou, entre acessórios e roupas, a cifra de 365 mil empresas (2011), 679 mil empregados, somando em salários R$ $ 9,3 bilhões.

Nos últimos anos passamos a ocupar o quinto lugar no consumo mundial de roupas, totalizando US $ 42 bilhões em vendas. Em 2013, esperava-se que os brasileiros gastassem R$ 129 bilhões em roupas e acessórios, com um dispêndio médio de R$ 786, crescendo em relação aos anos anteriores.

Geograficamente o setor de confecção se espalha em diversas regiões produtoras no país. No Estado do Rio de Janeiro têm-se as lingeries em Nova Friburgo, a moda praia produzida em Cabo Frio, rivalizando com a produzida em Fortaleza (Ceará). No interior de Pernambuco, em Caruaru, encontra-se a produção de jeans.

Em Apucarana, Londrina e Maringá (Paraná) são produzidas calças e bonés. Em São Paulo, em Americana há um polo produtor de vestuário e tecidos tecnológicos e, em Birigui, o de acessórios. Malhas são produzidas em Águas de Lindóia (São Paulo) e Monte Sião (Minas Gerais).

Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), este setor representou em 2012 a geração de US $ 744 bilhões, com perspectivas de US $ 851 bilhões para 2020. Ante estes números colossais o Brasil figura como um minúsculo Golias, abocanhando apenas 0,4% do mercado!

Países asiáticos ficam com metade da produção têxtil mundial, sendo a China um dos maiores produtores. A Agenda de Prioridades Têxtil e Confecção – 2015/2018 elaborada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) situa os asiáticos como maiores produtores de algodão, maiores produtores e exportadores, maiores empregadores.

Possuem ainda as maiores empresas e detêm maiores investimentos. Tudo isto associado a um sistema que remunera muito pouco e não oferece garantias aos trabalhadores, além da não proteção ambiental.

Deste modo, as exportações destes países têm afetado, e muito, a competitividade das indústrias e empresas brasileiras, que tem acusado o golpe. A importação de vestuário em dez anos já atinge 15% e representa US$ 3,5 bilhões.

Internamente o custo de energia elétrica era de R$ 60,00 o megawatt/hora há uma década, e subiu neste ano para R$ 800,00, segundo o presidente da Abit. O aumento deste e de outros insumos elevaram os custos de produção da indústria têxtil. Associando-se isto à tributação elevada, aos custos trabalhistas, percebe-se porque perdemos feio para os concorrentes asiáticos.

Há que se lembrar o crescimento da inflação que afeta a renda dos brasileiros e um clima não otimista frente às perspectivas da economia. Assim, temos um cenário extremamente desafiador para todos os empreendedores envolvidos nesta cadeia produtiva.

Vão precisar de muita engenhosidade, inovação, mais investimentos em tecnologia e em design, promoção da moda brasileira e melhoria na capacitação da mão de obra. Mas, os atores governamentais e políticos certamente tem papel extremamente importante a desempenhar. Pois, não é verdade que esta causa deva ser de interesse exclusivo dos empreendedores!

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