Caiu a ficha?

Victor de la Paz Richarte Martinez

UnknownTalvez você tenha vivido em uma época em que para conversar com outra pessoa ao telefone tínhamos que achar um orelhão. Lembra daquele pequeno poste com telefone? Aqueles que já o usaram vão recordar da expressão “caiu a ficha” quando a ligação se completava e se iniciava a conversa.
Independente se já usou algum dia esse aparelho, fazer ligação telefônica é muito mais fácil hoje. Graças ao desenvolvimento tecnológico, assistimos à morte lenta do orelhão começando com os beeps, depois o celular-tijolão que ostentava a modernidade do proprietário, chegando aos mais pequenos celulares atuais. Agora, até os mais idosos com pouco contato com a tecnologia possuem um aparelhinho, nem que seja apenas para fazer e receber telefonemas. Mas, aos poucos, eles estão aprendendo a usar os aplicativos e se deliciando com os benefícios da virtualidade e digitalização.
O avanço tecnológico, cada vez mais exponencial, repercute também no mercado de trabalho. Dados da consultoria Ernest & Young de 2017, informa que um em cada três empregos será substituído pela tecnologia já em 2025. O uso da robótica e da inteligência artificial, entre outros, avança no mercado de trabalho modificando postos de trabalho, criando novas funções e eliminando outras. E isso vai impactar em todas as esferas do trabalho, profissões e mercado. Se a tecnologia substitui o trabalhador, qual o novo papel das pessoas?
O senso comum advoga de que sempre será necessária uma pessoa para fazer a máquina trabalhar. Mais além dessa asserção, a inteligência artificial poderá decidir em breve, qual, quando e porquê certo botão deve ser acionado.
Mas ainda hoje, as pessoas são necessárias para o trabalho em grupo, principalmente pela dinâmica das habilidades na realização e finalização das atividades, mesmo que os processos sejam intermediados pelas máquinas.
As soft skills ou, como usamos no Brasil, as habilidades socioemocionais, ainda são fundamentais para a realização de um trabalho bem feito. Outro relatório, desta vez do Fórum Econômico Mundial (WEF- World Economic Forum) sobre o Futuro do Trabalho (2016), menciona que já para 2020 as principais habilidades requisitadas serão, em hierarquia: a solução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, coordenação com os outros e inteligência emocional, para ficar somente nessas poucas.
Esses comportamentos advêm do que se nomeia agora de 4ª. Revolução Industrial. O mesmo relatório da WEF nos lembra as rupturas anteriores. A primeira, com uso do vapor para movimentar máquinas; a segunda, da energia elétrica para produção em massa; e a terceira, com a automação da produção pelas tecnologias eletrônicas e de informação. Hoje, é a revolução digital que impacta todas as pessoas nas dimensões pessoal, profissional, social, saúde, afetiva, familiar etc. A virtualidade é a realidade, para muitos.
Há a necessidade de preparar os profissionais, não só os estudantes, para esse novo cenário. Novas oportunidades de trabalho nascem e são criadas em vários espaços geográficos e profissionais; decidir para onde, como ir e com quais produtos não é mais pauta de reuniões semestrais de planejamento; o tempo se tornou mais curto e as respostas ao público devem ser imediatas e a inovação tornou-se um mantra corporativo e de consumo, demandando criatividade e capacidade de colaboração entre pessoas de diferentes repertórios culturais e cognitivos. Lidar com pessoas de perfis tão distintos, mas com competências necessárias para os vários projetos concomitantes, pede ao profissional que reflita sobre suas emoções e como expressá-las e usá-las em sua carreira.
Se, de um lado, a cerca da estabilidade profissional está sendo afrouxada, de outro, o autoconhecimento se torna indispensável na criação de novos caminhos, assim como a capacidade de ler criticamente os cenários se torna um imperativo em novas chamadas.

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