Brasil vai à Copa jogar peteca

Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Enfim, passou. A Copa acabou e, apesar da Globo, é possível ter o direito a não respirá-la mais. E o que aprendemos com a Copa? A lição número um fica por conta obviamente da semifinal entre Brasil e Alemanha.

Como sempre, a mídia escolhe um queridinho. O da vez foi Neymar. Então fomos massacrados durante meses com notícias sobre o Neymar. O novo contrato, os milhões de dólares que ele ganhou, quando esta grana poderia render em tal e tal aplicação, a nova casa do Neymar, o novo iate do Neymar, o novo corte de cabelo do Neymar, as novas (?) propagandas que Neymar irá estrelar, a nova (por quantos dias?) namorada do Neymar, o café da manhã do Neymar, o almoço do Neymar, a noite do Neymar, o cotonete do Neymar, o ângulo que o milésimo tricentésimo oitavo fio de cabelo da parte posterior do cabelo do Neymar formou com o vento que entrou na concentração do Brasil às três e dezesseis da matina do dia que antecedeu a última partida…

Fomos informados também sobre o modo de convocação da seleção brasileira (aliás, repetição do que acontece em todas as Copas): uma caça a jogadores espalhados por todos os cantos do planeta, tentando montar-se um lego a que sempre falta uma peça perdida. Mas havia o Neymar e ele era mais importante que o próprio time.

Enquanto isso a Alemanha de Angela Merkel estava concentrada. Não na véspera da partida, mas há dez anos, treinando o mesmo time, assistindo às quinze últimas partidas de todos os seus possíveis adversários, estudando cada titular e cada reserva. Os jogadores vieram ao Brasil acompanhados de suas esposas e filhos, com os quais passearam livremente pelas ruas de nossas cidades, misturando-se ao povo e aos turistas. Não foram trancados hermeticamente na concentração, nem alardearam detalhes da vida íntima do super goleiro ou dos outros craques.

Deu no que deu. No jogo derradeiro, a impressão não era a de dois times disputando uma partida de futebol, mas de dois times jogando esportes diferentes: a Alemanha procurava o gol e jogava futebol; o Brasil olhava para o alto, como se estivesse procurando uma peteca, mas, antes de tocá-la, via a bola entrar outra vez. E assim computamos o maior vexame histórico de uma semifinal e acumulamos as contas de dezenas de obras públicas não concluídas, os bilhões de dólares gastos e os estádios destinados agora à degradação.

Mas o discurso, tramado pela FIFA e pela CBF e adquirido, à custa dos nossos impostos, pelo governo, era que a Copa ajudaria a promover a imagem do Brasil. Não promoveu, apenas ratificou o signo de nossos improvisos. Confirmação pela confirmação, sejamos francos: não era preciso gastar tanto dinheiro. E já que se recorre tanto à beleza e ao exotismo da natureza brasileira, poderíamos ter confirmado nossa imagem (leia-se: nosso pendor para performances improvisadas) com algum clichê turístico de macacos e araras cabriolando nos coqueiros. Ou de algum bumbum rebolativo. Afinal de contas, um país que escolhe para abertura e encerramento da cerimônia oficial do evento “artistas” do porte de Cláudia Leite e Ivete Sangalo, merece o resultado que conquistou.

Para ler outros textos do Professor Veronese, acesse: blog CPV (link Dicas Culturais do Verô).

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