Abenomics: hora das reformas estruturais

Alexandre Uehara

O ano de 2019 é um ano histórico para o Japão, pois a partir de 1 de maio, o príncipe Naruhito assume o lugar do imperador Akihito, que por questões de saúde abdicou o trono em favor de seu filho mais velho. Em comemoração à nova era foi denominada Reiwa (traduzido como bela harmonia), foi feriado no país no período de 27 de abril a 6 de maio. Esse período de descanso resultou em um crescimento de 30% nas viagens domésticas em relação a 2018, o que deverá contribuir para um bom resultado da economia no segundo trimestre.
Outra boa notícia no mês de maio foi a informação de que houve um crescimento de 0,5% no primeiro trimestre de 2019. Esse resultado foi melhor do que o esperado, pois as estimava-se uma retração da economia em torno de 0,2 %.
No entanto, esses fatores não são apontados como suficientes para um crescimento sustentável da economia japonesa, muito pelo contrário, as expectativas são de um desempenho modesto para este ano, pois de acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional, o aumento do produto interno bruto (PIB) deverá ficar em torno de 1,0% em 2019.
Entre as dificuldades para a continuidade do crescimento da economia do Japão, estão o esgotamento do uso de algumas estratégias da política desenvolvida desde a ascensão do primeiro-ministro Shinzo Abe, em 2012, que ficou conhecida como Abenomics, e que foi embasada nas três iniciativas elencada abaixo.
i) Estímulo fiscal;
ii) Política monetária expansionista;
iii) Reformas estruturais
Começando pelos estímulos fiscais, nota-se que existem restrições para a continuidade da sua utilização, pois a dívida bruta do governo japonês fechou o ano de 2018 em 237,1% do PIB, sendo a maior entre os países desenvolvidos. E, para combater esse endividamento o governo Abe planeja um aumento do imposto sobre consumo de 8% para 10%, porém, a falta de dinamismo econômico tem levado a um constante adiamento dessa medida
O dilema é que se por um lado o aumento do imposto é positivo para tentar combater o problema da dívida pública, por outro essa medida impacta negativamente no consumo. Eventualmente, o anúncio do aumento do imposto possa proporcionar um aquecimento nas vendas pela antecipação de compras, mas, provavelmente, seguiria um período de queda acentuada nos gastos pela população.
O segundo ponto a ser analisado é o da política monetária expansionista que tem sido aplicada para combater à deflação, uma situação que é negativa para a economia, pois estimula as pessoas a adiarem o consumo para aproveitarem os preços mais baixos no futuro. O mercado interno representa cerca de 60% do PIB do Japão, por isso manter o consumo é importante já que um dos corolários da redução nas vendas é a redução dos salários pagos pelas empresas, que conduz a diminuição do poder de compra dos consumidores e consequentemente, menor crescimento da economia. Para continuar estimulando o consumo o presidente do banco central do Japão, Haruhiko Kuroda, confirmou recentemente a manutenção da política de juros negativos, que foi estabelecida desde janeiro de 2016, pelo menos até 2020.
Um outro fator para o crescimento econômico são as exportações, mas os resultados do comércio exterior do Japão não têm sido animadores. O enfraquecimento do crescimento da China e as tensões comerciais sino-americanas têm refletido em um declínio das exportações japonesas. De acordo com os dados da Japan External Trade Organization (JETRO), entre janeiro a março de 2019 as vendas para os países da região da Ásia, que representa 52,4% do total das exportações japonesas, caíram 4% em relação ao mesmo período de 2018. As vendas para China, que sozinha representou cerca de 17,8% do total das exportações japonesas, caíram 8,3% nessa mesma comparação ente 2018 e 2019.
O terceiro eixo de iniciativas está relacionado às reformas estruturais e é o que se avalia com menores ações. Algumas foram expostas em 2014 pelo primeiro ministro Abe, como cortes de impostos corporativos, liberalização da agricultura, reforma do mercado de trabalho e iniciativas para revisar a regulamentação dos setores de energia, meio ambiente e saúde.
Como se viu acima, após seis anos de uso dos instrumentos relacionados aos estímulos fiscais e à política monetária apresentam limitações. Por essa razão tem se afirmado que é hora de se aprofundar as reformas estruturais, elas ganham ainda mais importância na estratégia Abenomics, e são apontadas como fundamentais para dar maior competitividade da economia japonesa e sustentabilidade ao crescimento econômico do Japão. As expectativas pelo sucesso dessas políticas econômicas, não se restringem aos cidadãos japoneses, pois se trata do terceiro maior PIB mundial, com isso, as repercussões podem e deverão ter reflexos também no âmbito internacional.

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