A sala de aula como espaço do medo e da intolerância

Andrey Mendonça

Gostaria de compartilhar um sentimento, que não advém de uma simples experiência estética com o mundo, mas de uma percepção no exercício do magistério. Compreendo que em nossos dias, a figura do professor está em transformação: de uma espécie de guia do caminho da sabedoria para os ignorantes, à um papel de facilitador de um diálogo com as diversas formas do saber.

De certa forma, isso afeta a nossa postura em sala de aula, antes local de silêncio absoluto dos estudantes no qual apenas a voz do mestre se fazia ouvir, e que agora é um locus de discussão, debate e construção coletiva do conhecimento. Se no passado, os estudantes eram avaliados pelo seu bom ou mau comportamento, agora o são ou pela capacidade de desenvolver um raciocínio logico e coerente ou por reproduzirem um discurso hermético cuja fonte são postagens nas redes sociais.

É justamente esse o ponto de partida de nossa observação. No caso, não importa tanto a ferramenta pedagógica utilizada: se a maiêutica socrática, se a dialética hegeliana ou a redução eidética fenomenológica; um fato é cada vez mais comum nas discussões: não há diálogo! Pois, para havê-lo, seriam necessários alguns pressupostos básicos entre os que acordam em fazê-lo como o reconhecimento mútuo de nossa condição humana, da vulnerabilidade à qual a exposição de ideias nos impõe, do lugar de fala de cada pessoa, do pano de fundo de cada discurso e do equilíbrio entre lógica, retórica e repertório.

O medo é constitutivo da nossa humanidade, primordialmente, nos deparamos com a condição de finitude, a morte. Hoje, num mundo moderno, tecnológico e conectado temos medo da exposição, apesar de a todo instante alimentamos as redes sociais com nossa intimidade. Na sala de aula, no enfrentamento real do outro e de sua alteridade, tememos nos expor, especialmente se nossas opiniões, reflexões ou pensamentos não se encaixam nos padrões contemporâneos do “politicamente correto” ou daquilo que é aceito, sem reflexão, através dos modismos lançados, dia após dia, nas redes sociais.

Disso, decorre o fato que muitos professores e estudantes ou só falam de amenidades, ou não aprofundam questões importantes que tocam o solo do cotidiano. Medo gerado por um ambiente intolerante! Expressão estigmatizada como discurso conservador, de direita ou reacionário.

Intolerância pode ser definida como “intransigência contra pessoas que têm opiniões, atitudes, ideologia, crenças religiosas etc. diferentes da maioria”. A intolerância, neste sentido, impede o diálogo, a exposição de ideias antitéticas, imprimindo um caráter homogêneo falso à um grupo; no caso, estudantes que deveriam aprender a lidar com as diferenças num mundo cada vez mais plural.

Tolerar não significa aceitar a postura ou a ideologia do outro, mas reconhecer que, no jogo democrático, o espaço do diálogo é garantido a todas as pessoas, que a violência ideológica não tem partido ou bandeira e que qualquer pensamento hegemônico ou totalitário leva, necessariamente ao medo, ao obscurantismo intelectual e ao não reconhecimento do outro em sua alteridade e humanidade.

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