A Psicologia nas Organizações e seu objeto de estudo: a quem serve esta importante área da Administração?

Mariana Malvezzi

Como ciência que estuda a relação Homem-Trabalho a Psicologia Organizacional e do Trabalho (a partir de agora referida como POT) surgiu com a difícil tarefa de mediar uma relação tão sujeita a conflitos por parte de seus dois principais elementos: o homem e o trabalho. A POT nasceu em função dos problemas que a indústria criou como consequência, por exemplo, do frenético ritmo de trabalho que é ditado pelas máquinas e não mais pelo homem e os sinais do seu corpo.

Neste sentido a POT, desde seus primórdios (1900), caracterizou-se por buscar compreender e propor alternativas que amenizassem por um lado o impacto do trabalho no homem (fadiga) e por outro direcionassem a um aumento da produtividade (psicotécnica). Marcada também por uma interdisciplinaridade onde aspectos biológicos, psicológicos, sociais e políticos se constituem como base para a compreensão do que se propõe, a da relação homem e trabalho. Sendo assim, pode-se afirmar que a POT possui um objeto de fronteira com outras ciências.

Como a própria questão do trabalho, a POT por lidar com o trabalhador e com o próprio trabalho encontra possivelmente dois diferentes e talvez antagônicos objetos de estudo: o desempenho do trabalhador (onde o foco é no trabalho, na produção) e a pessoa do trabalhador (onde o foco é nos limites do homem, seu bem-estar, etc.).

Quando tem como objeto o desempenho do trabalhador a POT se aproxima do entende-se por Taylorismo, a completa sistematização do trabalho a fim cumprir com os objetivos organizacionais. Dentro desta linha, e com vários desdobramentos e adaptações aos diferentes estágios da POT, encontram-se várias, e pode-se afirmar grande parte, das ferramentas da POT. Entre elas: avaliação de desempenho, descrição de cargo, treinamentos técnicos e motivacionais, pesquisas de clima, etc. Quando tem como foco o desempenho do trabalhador a POT encontra-se alinhada à organização, à engenharia e à economia, ela está a serviço do status quo e da contínua dominação da natureza.

Quando tem a pessoa do trabalhador como objeto a POT deve impor limites à realização do trabalho. Como ciência que preza por seu objeto a POT deve demarcar fronteiras onde a engenharia, a economia e a organização não podem ultrapassar mesmo que isto ponha em jogo a própria produção ou o próprio trabalho. Neste sentido, por exemplo, a “avaliação de desempenho” deveria estar a serviço do desenvolvimento do trabalhador e não da mera realização de tarefas previamente designadas.

O dilema resultante do estar entre dois objetos antagônicos, defender o trabalhador enquanto pessoa e a produção resultante do desempenho do mesmo coloca a POT em uma situação bastante delicada. Mesmo que definisse seu objeto como a pessoa do trabalhador a POT não teria como existir desassociada das demandas e do suporte da indústria. Por outro lado não tem como servir o desempenho sem atentar-se às pressões e demandas que impactam o trabalhador não apenas na sua vida pessoal como também no ambiente de trabalho.

Cabe perguntar como resolver tamanha dicotomia? Como é possível servir a dois senhores? Psicologia e Administração possuem, neste sentido, uma vasto campo para inovação, pesquisa e reflexão.

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