A Primavera Árabe e a Turquia

Por Armando Tadeu, Professor do Intergraus Vestibulares

Muita gente caiu no engano de que a Primavera Árabe estava chegando à Turquia quando o governo de Tayyip Erdogan, Primeiro Ministro turco, começou a ser questionado por manifestações populares, que chegaram a pedir sua saída.

Lembremos que a Primavera Árabe é uma onda revolucionária pro-democrática que se propõe a derrubar décadas de ditaduras em países do norte da África e Oriente Médio. Com origem na Tunísia, o movimento teve como pretexto o suicídio de um “feirante” que se desesperou com o confisco, por parte da polícia, de seus produtos diante da péssima situação econômica pela passava o país. Por meio de redes sociais a oposição chama o povo às ruas e em dois meses a chamada “Revolução de Jasmim” alcançou o objetivo de pôr fim a anos de governo do ditador Zine Al Abdine Ben Ali. O método dos tunisianos rompeu fronteiras tendo o mesmo êxito no Egito derrubando a ditadura de Rosni Mubarak, na Líbia levando a morte do ditador Muamar Kadaf e no Iêmen forçando a renúncia de Ali Abdullah Salle. No caso do Bahrein, o ditador Hamad Bim Isa Al Khalifa, consegue se manter no poder com violenta resistência e proponde reformas. Já na Síria opositores ainda embalados pela Primavera Árabe tentam tirar Bachar Al Assad do poder.

Portanto, não podemos incluir a Turquia nesse contexto por ser um país de perfil democrático e liberal, no qual o governo é fruto da escolha popular. Então qual é o problema com o governo de Recep Tayyip Erdogan?

O partido de Tayyip Erdogan AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) está no poder desde 2002. Em 2007 Erdogan venceu as eleições gerais com 47% dos votos e foi reeleito em 2011 com 50% dos votos. É verdade que as circunstâncias econômicas do país melhoraram nesse período e o acesso a saúde e educação foi ampliado. No entanto, grupos laicos se vêm cada vez mais sufocados por medidas comportamentais restritivas de caráter islâmicas, o que significa o aumento da influência da religião na vida política.

A proposta de substituir uma Praça em Istambul por um shopping center não é motivo suficiente para pedir a renúncia do governo. A Praça Taksim foi apenas um pretexto para estimular as manifestações de repúdio a um governo conservador que vem editando medidas de caráter religiosa como a autorização do véu islâmico em universidade, proibição da venda de bebidas alcoólicas próximas a mesquitas (templo islâmico) e escolas, a punição do pianista Fazil Say por blasfêmia ao ironizar o islamismo, e por aí vai.

Setores da sociedade turca não criticam décadas de ditadura, mas sim um governo investido de intensões religiosas que pretende moralizar o país segundo a moral islâmica. Não estão resistindo a um ditador e sim a um consertador. O copo estava cheio e a Praça Taksim foi apenas a gota d’água. Guardemos a experiência de que em alguns casos o pretexto é secundário, por trás dele se esconde reais objetivos.

No caso das manifestações ocorridas em São Paulo e em outros capitas e cidades do interior do Brasil, nota-se claramente que os manifestantes foram direto ao assunto, o descontentamento com o aumento das tarifas de transporte coletivo, capitaneada pelo Movimento Passe livre (MPL). Não houve um fato anterior desvinculado do transporte coletivo que levou os manifestantes a externarem seu descontentamento.

Creio, no entanto, que as conquistas do MPL podem sim se tornarem uma porta para reivindicações futuras e uma forma de extravaso da população cansada dos discursos persuasivos de políticos, que ao assumirem o comando dos poder executivo ou legislativo, em cada uma das três esferas (Federal, Estadual e Municipal) se esquecem de suas promessas de campanhas.

 

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