A outra bienal

Professor Aníbal Azevedo, Diretor do Cursinho Intergraus

No dia 22 de agosto foi aberta a 23a Bienal Internacional do Livro de S. Paulo, no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Durante os dez dias da feira, oitocentos mil visitantes passaram por lá. Foi um evento destinado a divulgar lançamentos, a aproximar as pessoas dos livros e, sobretudo, atrair novos leitores.

Vários obstáculos entravam na disseminação do livro no país. Em primeiro lugar, o livro é um produto relativamente caro, se comparado ao ganho médio dos brasileiros. No entanto, um ingresso para o futebol não custa menos que trinta reais (sem contar transporte e alimentação) e o torcedor chega a gastar o dobro disso em alguns jogos. Esse valor não está muito longe do preço de um livro em edição normal — o usufruto do qual geralmente supera, e muito, os exíguos 90 minutos de duração de uma partida futebolística. Além disso, temos editoras que trabalham com livros de bolso. Estes livros em formato menor e de baixo custo, são encontrados em vários pontos de venda (como bancas de jornais e farmácias), estando acessíveis a um grande número de possíveis interessados — o que nos leva a outra dificuldade: a quantidade de livrarias no país.

De acordo com dados da Associação Nacional de Livrarias, o Brasil dispõe, hoje, de menos de 3.500 livrarias, distribuídas em pouco mais de sessenta por cento dos nossos municípios; as notórias disparidades econômicas entre as regiões também se manifestam nesse caso: três quartos das livrarias se concentram nas regiões Sul-Sudeste. Segundo a Unesco, o ideal é um país possuir uma ou mais livrarias para cada 30.000 habitantes; aqui, é uma para cada 60.000.

Provavelmente o preço dos livros e a carência de livrarias não justificam, por si sós, o baixo índice de leitura entre a população. A média anual de livros lidos por pessoa no Brasil é de 2, inferior à de outros países sul-americanos mais escolarizados, como Argentina (5) e parecida com a de países com escolarização precária, como a Colômbia (2,5). Isso sugere que a leitura e a compra de livros no país não avançarão significativamente enquanto não estivermos mais bem colocados no quesito escolaridade.

Os exames vestibulares, por exemplo, cobram algumas leituras obrigatórias; no entanto, poucos candidatos chegam às provas tendo-as realmente lido. Acabam recorrendo a resumos e esquemas, por falta de tempo para uma leitura cuidadosa às vésperas dos exames; geralmente as escolas do ensino fundamental e médio não cuidaram desse detalhe e são poucos os livros canônicos que os alunos leram sob a supervisão e auxílio de um professor.

A venda de livros em formato digital (os e-books) tem-se multiplicado no país e no mundo, a um custo bem menor que o do livro de papel; e a disponibilidade online do produto reduz a importância do número de livrarias físicas para o acesso às obras. Essa nova modalidade de leitura pode ainda parecer estranha para as pessoas mais velhas e refratárias às mudanças, mas terá cada vez maior aceitação entre a geração digitalmente alfabetizada.

Um dado interessante e alvissareiro é o fato de os livros infanto-juvenis ocuparem, de longe, o primeiro lugar em vendas no país. Isso significa que — ao contrário de que apregoam as Cassandras de plantão — as novas gerações, na verdade, leem mais do que a geração de seus pais e professores! Para atender essa demanda, nossas editoras têm produzido livros com alta qualidade, tanto de texto, quanto na apresentação gráfica.

Visitar a Bienal foi uma excelente oportunidade para tomar contato de primeira mão com o universo do livro no Brasil. Quem não foi, perdeu.

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