A importância da gestão de risco para startups

Jose Eduardo Amato Balian

Um dos itens pouco estudados pelas startups brasileiras em sua fase inicial ou mesmo madura é a gestão de riscos. Isso mesmo, riscos! Muitos prejuízos poderiam ser evitados e até o fechamento de empresas, caso a mesma tivesse levado em conta a possibilidade da estratégia ou da gestão não dar certo e despusesse de um plano de contingência.

Risco e Valor são inversamente proporcionais: quando se elimina o risco, cresce o valor. Mas a sequência na qual os riscos são abordados é importante, pois nem todos são iguais. Riscos são inerentes quando tentamos fazer algo novo e, por definição, aumentar a receita exige novas formas de pensar.

As pessoas muitas vezes não avaliam adequadamente as potenciais recompensas de assumir um risco. Elas também não sabem pesar riscos e benefícios. O sucesso vem para aqueles que rapidamente identificam riscos e os eliminam de forma sistemática e na ordem certa, usando o nível adequado de recursos e métodos corretos.

Todo novo empreendimento é repleto de riscos. Se o empresário tentar eliminar todos, o produto ou serviço jamais chegaria ao mercado. O crucial é se perguntar “Qual a incerteza mais importante?” E, seja qual for a resposta , abordá-la logo cedo.

Podem-se destacar três tipos de Riscos:

  • Letais;
  • Ligados ao Rumo Eleito;
  • Fácil Solução e Alto Retorno.

Os Riscos Letais, com o próprio nome diz, podem muito rapidamente inviabilizar seu negócio, ou seja, do dia para a noite. Por exemplo, empresa de um cliente só e perde-lo, divulgar para o mercado vantagem competitiva relativa à velocidade, durabilidade, conexão e até o objetivo do produto que na prática não se viabilizam. Delinear toda estratégia para vender a um determinado canal e não conseguir, com um supermercado.

O caso da Petrobrás na crise foi devastador, pois vários estaleiros simplesmente quebraram com os cancelamentos da fabricação de navios (muitos com projetos em andamento). Remédios “milagrosos” e vários produtos de informática tiveram problemas quando consumidos.

Os Riscos Ligados ao Rumo Eleito, são aqueles relativos à performance, diretamente ligados gestão da qualidade prometida e prazo de entrega determinado com o cliente.

Por exemplo, o setor de confecção possui estações durante o ano e cada coleção deverá sem entregue nas datas previstas, isto é, a coleção de verão tem que ficar pronta e ser entregue aos clientes antes do verão, caso contrário não terão condições de vendê-la, ou produtos sazonais como material escolar (janeiro e agosto), brinquedos (outubro e dezembro), bebidas e chocolates (junho, julho) possuem a mesma necessidade. Caso o prazo e qualidade não forem cumpridos ou os pedidos voltam e podem nem ser recebidos.

Os Riscos de Fácil Solução e Alto Retorno estão ligados ao ROI (retorno por investimento). No planejamento, pressupõe-se produzir certa quantidade de produtos e/ou prestação de serviços a determinado custo e preços de modo a propiciar a rentabilidade desejada. No entanto, suponha que sua pesquisa foi falha e na compra de matéria prima e o preço saiu muito mais caro (em função da pequena quantidade), ou que na hora de produzir/prestar o serviço, o desperdício ou o tempo previsto foi muito maior, sem falar na produtividade e preço de venda.

Pois bem, o resultado não será o esperado, mas o investimento já foi feito. Caso seja positivo, menos mal! Caso negativo, a solução fica muito mais difícil e muitas vezes inexequível.
Se não detectar o risco letal, o projeto está condenado. Se não fizer um hedge contra o risco ligado ao rumo eleito, cresce drasticamente a probabilidade de se seus fundos se esgotem antes que consiga chegar ao mercado, ou de que chegue tarde de mais.

Já se não abordar os riscos de alto ROI de forma ordenada, o que era revés temporário pode se virar um obstáculo intransponível.

O resultado mais perigoso de injetar muito dinheiro cedo demais num projeto é que isso pode criar um “viés de confirmação” na cabeça dos gestores do empreendimento. Em vez de questionar suas premissas, ficam cada vez mais propensos a querer confirmá-las. Já o bom empreendedor faz o oposto: formula experimentos de baixo custo para refutar uma tese antes que seja tarde demais.

Sendo assim, apresentamos dois tipos de experimentos úteis:

  • Experimento Direcionado

É feito para identificar um risco letal para o projeto ou ao rumo eleito. Ex: bateria, toxidade/remédio, velocidade/qualidade/conexão.

  • Experimento Integrado

É feito para testar como distintos elementos – o modelo de negócio e as operações propriamente ditas – se comportam em conjunto. Na prática significa lançar o empreendimento, ou parte dele em pequena escala.
Embora o uso do piloto não seja novidade, nossa experiência mostra que um empreendedor raramente dá tempo suficiente para o mesmo.

Jose Eduardo Amato Balian
Coordenador da Incubadora de Negócios da ESPM SP

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