A hora e a vez para empreender com resíduos sólidos!

Por Rose Mary Lopes

Os olhos dos brasileiros e do mundo futebolístico focam junho e julho de 2014. Entretanto, no segundo semestre de 2014 não somente teremos a Copa do Mundo. Todos os brasileiros serão muito mais impactados e de forma permanente pelo que se fizer no sentido de realmente implementar a nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, representada na Lei Federal 12305 de 2010.

Não somente as obras dos estádios e as demais adaptações das cidades-sede estão a dever em ritmo e completude: mais de 90% de todos os nossos municípios já tinham sido gongados, no final de 2012, por não terem apresentado os seus planos de gestão dos resíduos ao Ministério do Meio Ambiente. Parecem faltar conscientização para a enormidade do desafio a ser enfrentado, além de capacitação técnica e vontade política. E, esta vontade se expressa em priorizar, pleitear e arranjar recursos para dar uma virada na situação de quase total insustentabilidade no trato com o nosso lixo.

Certamente não é um assunto tão glamuroso quanto a Copa. Não gera interesse e visibilidade, não tem tanta empresa correndo para oferecer patrocínio, não dá fama. E, se trata de um dos setores mais vergonhosos das nossas políticas públicas. Mas, que afeta a vida, a saúde e a posteridade da nossa sociedade e do nosso meio ambiente.

Vamos entender um pouco mais. Resíduos sólidos são categorizados como sendo sólidos, semissólidos, gases encerrados em recipientes e líquidos que não podem ser lançados nos esgotos ou correntes de água. Nós brasileiros geramos mais de 61 milhões de toneladas de lixo sólido urbano por ano, sendo que 11% nem sequer é coletado, sendo jogado em terrenos baldios e corpos d´água, e 42% dos municípios os descartam em locais inadequados.. Temos em uso 2906 lixões (IPEA). Pouco mais da metade – 58% – dos municípios pesquisados (com 51% da população urbana brasileira) diz possuir alguma iniciativa de coleta seletiva (dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2011 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe).

Ou seja, desperdiça-se muito da potencialidade de reinserir muita matéria prima nas cadeias produtivas ou de gerar insumos. Afinal, 95% do lixo coletado, separado e tratado adequadamente é reciclável e se transforma em agregação de valor, ao invés de representar apenas custos e um passivo ambiental e danos de enormes proporções. As cidades e os políticos poderiam estar agindo de forma mais empreendedora para transformar este problema que consome muito dos recursos públicos em fonte de receita. Nos municípios de porte médio o lixo é o terceiro maior item de despesa, e nas pequenas com até 50 mil habitantes é o primeiro item.

Pela PNRS todos nós somos corresponsáveis pelo resíduo sólido gerado, consumido e descartado. A visão e o comportamento de toda a sociedade – entidades públicas, privadas e a sociedade civil precisa encarar o lixo como um bem econômico, com valor social, desde que reciclado e reutilizado, Se o for, geraria trabalho e renda, além de preservar o meio ambiente – solo, cursos e reservas de água, e ar.

Nós precisamos saber onde descartar adequadamente todos os produtos, bens, embalagens e resíduos do que utilizamos. Desde veículos, equipamentos eletroeletrônicos, resíduos de construção civil, pneus, móveis etc.

A cadeia de logística reversa precisa ser montada para itens diferentes de latinhas de alumínio, papéis e de lubrificantes. Já existem algumas empresas, empreendedores e governos se articulando nesta direção. O Banco Santander há muito tempo recolhe pilhas usadas. Na semana passada vi que o Boticário já tem caixas para descarte das embalagens usadas. O Grupo Pão de Açúcar, articulado com a Associação Reciclázaro e o município de São Paulo já tem 10 pontos de coleta de equipamentos eletroeletrônicos. E, prometem outros pontos nas cidades-sede da Copa. A Coopermiti, em São Paulo, conjuga reciclagem com inclusão social e educação ambiental. Ainda é pouco, ante estimativa de 150 mil toneladas de e-lixo anualmente no Brasil.

Muitas oportunidades estão aí para serem exploradas e articuladas pelo esforço privado de empreendedores, intraempreendedores, mas também de prefeitos e governadores no sentido e estruturar a gestão dos resíduos sólidos. Há iniciativas puxadas por governo e municípios no sentido de investir e construir aterros sanitários que atendam a uma região, abarcando diversos municípios que, isoladamente não teriam como criar uma solução adequada.

Todavia, é preciso perceber que o lixo e o descarte dos resíduos sólidos vão além da construção de aterros sanitários. Há que se estruturar toda uma cadeia de reciclagem e de remanufatura dos resíduos, dos equipamentos e bens descartados. A remanufatura de produtos mecânicos e eletrônicos – ex. peças de veículos, celulares, computadores etc. é possível e gera receitas (nos EUA já atingiria mais de US $ 14 bilhões).

Há oportunidades na cadeia Business-to-Business – B2B: resíduos de uma indústria ou empresa servem como matéria prima ou insumo para o processo produtivo de outras. Uma empreendedora que percebeu isto foi a Mayura Okura que fundou a B2Blue (classificada em 1º. Lugar no ESPM Startup Challenge 2012) – uma plataforma de troca de resíduos entre empresas. Assim, já possibilitam o reaproveitamento de resíduos têxteis, jornal, plásticos, galões pet, sucata de PVC, borracha, madeira, placas de computador, metais ferrosos e não ferrosos, etc.

Ou seja, é a hora e a vez dos empreendedores apresentarem soluções e empreendimentos que reciclem os resíduos sólidos, transformando-os em insumos e novos produtos.

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