No Brasil, tecnologia é mais diversão que negócio

Os brasileiros estão entre os povos que passam mais tempo na internet, estão entre os cinco maiores usuários de vários serviços on-line e o país já conta com oito empresas no panteão dos “unicórnios” – que têm valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Mas o uso dessas tecnologias ainda é vista como diversão, uma maneira de passar o tempo, e está menos voltada para a geração de produtividade.
Para Nicola Calicchio, sócio sênior da consultoria McKinsey, isso ocorre em parte porque o brasileiro é “atrapalhado o tempo todo” durante sua experiência on-line. “A velocidade da internet é bem mais baixa que em outros países, a estabilidade da conexão é ruim.
Existe dificuldade de abrir e, principalmente, de fechar empresas, algo que é muito importante nesse ambiente digital de teste e fracasso”, diz. Ele destaca ainda o fato de só 1% dos brasileiros serem formados nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.
Na avaliação do especialista, essas amarras fazem com que as pessoas tenham menos incentivo para empreender. Do lado dos investidores, o incentivo para aplicar recursos fica menor, o que gera um círculo vicioso. “Enquanto nos EUA o investimento em venture capital [capital de risco] é de 0,4% do PIB, no Brasil, o percentual é de 0,03%, e a economia de lá é 10 vezes maior que a nossa. Então se você tiver 100 startups, 99 vão aparecer lá e uma aqui. E com as baixas possibilidades de sobrevivência de empresas que temos, isso acende o sinal de alerta. A gente quer que o Brasil continue sendo a fazenda do mundo, ou que tenha protagonismo no novo mundo digital?”, diz.
Calicchio tratará dessas questões hoje na Brazil at Silicon Valley, conferência organizada por estudantes brasileiros da universidade de Stanford. Segundo Djalma Rezende, co-presidente do evento, com 790 participantes confirmados, o evento não é uma resposta à Brazil Conference, realizada por alunos da universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) na semana passada. “São eventos complementares”, diz.

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